Olhar

Postado em: agosto 31, 2010 por Marcio Carvalho em

Eu vivo 10 mil vidas em um olhar.

O corte

Postado em: por Marcio Carvalho em

O peito é aberto com palavras.

O coração é guardado por uma caixa de ossos. Falsa segurança.

O sangue jorra, a vida pulsa.

E no silêncio da dor, eu me entrego.

Do sentido

Postado em: por Marcio Carvalho em

Sou filho da terra e do céu.

Meu corpo exige sentir a fome e saciar, exige o calor, o fogo da intensidade.

Minha alma deseja a paz, quer soltar-se, quer abrigo no infinito.

Eu vivo entre os dois.

E tudo faz sentido.

Do que não pode ser dito

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Pensou em segurar a mão dela, enquanto ela olhava para o vazio. Queria naquele instante que todas as pessoas em volta deles desaparecessem e queria que o tempo parasse.

Queria tocar-lhe o rosto com calma, queria abraçá-la forte, sentir o corpo dela macio e quieto sob seus braços. Queria sentir o gosto dos lábios nos seus.

Queria, acima de tudo que ela escutasse as palavras que ele precisava dizer. Queria olhar nos olhos dela e entregar o segredo que queria fugir de seu peito a todo momento.

Mas as pessoas não desapareceram, o tempo não parou. Ele não tocou de leve o rosto dela, tampouco sentiu o abraço ou o gosto do beijo.

As palavras flutuaram no ar, suspensas em pensamentos e desejos reprimidos.

Ainda não...

Ainda não...

Mariposa

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Ele olhou a mariposa batendo incessantemente nas grandes clarabóias de vidro no teto, enquanto a poucos metros ao lado, grandes aberturas nas paredes levavam à liberdade do mundo externo.

O inseto insistiu por muito tempo, jogando-se com toda a força que tinha contra o vidro, seguindo sua programação interna que o guiava ao azul do céu.

Os choques ficaram menos frequentes. A mariposa parecia estar cansada e ferida. As asas batiam com cada vez menos força, até que não conseguiu mais atingir o teto. Seu vôo foi perdendo força e altura, até que, rendendo-se à morte inevitável, deixou-se cair.

Ele foi até o local onde o inseto alado jazia, as asas ainda batiam, mas não conseguia mais voar.

Olhando para as grandes aberturas nas laterais do prédio, o homem abaixou-se e delicadamente colocou a mariposa na palma da mão.

Levou-a com cuidado para não danificar ainda mais o pequeno corpo, esperou uma brisa um pouco mais branda passar e soltou a mariposa no ar. Imediatamente ela começou a cair.

Ele olhou-a, imaginando em um instante que o pior já havia acontecido e a mariposa iria cair inerte na rua mais abaixo. Porém, viu que as pequenas asas começaram a se agitar e ainda que lentamente, a mariposa afastou-se do prédio, rumo ao seu futuro.

Ele seguiu o vôo, pensando em como a cena inteira lembrava-lhe de si próprio.

treasure

Postado em: agosto 29, 2010 por Marcio Carvalho em

Abre os braços. sentindo o vento passando cada vez mais rápido, o barulho aumentando, até que tudo o que ele consegue ouvir é o barulho do vento.

Seu coração acelera, não de medo, mas de antecipação. O mundo vai ficando cada vez maior.

Mais velocidade, mais vento.

Ele sente o peso desprender-se do seu corpo. Todos os medos, todas as culpas, tudo o que o fazia sofrer é arrancado com o movimento. Apenas a sua essência permanece.

E no fim, ele está feliz.

Hoje

Postado em: agosto 28, 2010 por Marcio Carvalho em

Hoje eu sou todas as coisas.


Ao mesmo tempo.


Hoje eu sou.

Dos paradoxos perfeitos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Porque eu me perco em caminhos que eu deveria conhecer, para encontrar você.


E me sinto criança, explorando a imensidão de coisas que deixamos por aí. E descubro tantos tesouros que perdemos.


Momentos. SIlêncios. Olhares. E todos os mundos que construí com eles, dentro de mim.


Se fosse possível, guardaria todos em pequenas jarras, na estante da sala.


E viveria meus dias a admirá-los.


E quando chegasse a hora, deixaria-os ir.



Segredo

Postado em: agosto 24, 2010 por Marcio Carvalho em

Por que eu tenho que mentir, esconder, fingir que não existe esse algo que é maior do que eu, que é mais forte do que eu, que é mais real do que eu sou?

Por que esse sentimento de que se eu abrir a boca, o mundo ordenado se desfaz em um castelo de cartas?

Por que carregar essa dor, essa solidão idiota, esse semblante falso de que está tudo bem?

Por que mentir e fingir que está tudo bem, quando só o que existe é dúvida?

Explica pra mim. Olha nos meus olhos e diz que não.

Desatinos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu sou feito de silêncios.
Eu sou feito de sonhos.

Eu sou feito de amores.

Eu sou feito de saudades.

Eu sou feito de carne.

Eu sou feito de prazeres.

Eu sou feito de dúvidas.

Eu sou feito de segredos.

Eu sou feito de perdas.

Eu sou feito de mentiras.

Eu sou feito de sentidos.

Eu sou feito em pedaços.

Do som de asas

Postado em: por Marcio Carvalho em

Desisti de minhas asas.

Cortei-as fora, jogadas no chão, brancas penas sujas de sangue.

Nas costas, a cicatriz me lembra de minha herança divina.

Na minha mão, a lâmina ainda trêmula.

A dor é ainda presente, mas sei que acabará.

Pois meus pés tocam o chão, agora.

E meus pensamentos é que voam.

Canibalismo

Postado em: por Marcio Carvalho em

Me alimento de você.

Dos pensamentos que deixou em mim, dos textos que deixou por aí, das fotos, das lembranças.

Mas a fome de você não acaba.

Do que é real

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu minto para você. Porque meu corpo deseja. E nesse desejo, todas as mentiras são reais, mais reais que essa carne que queima em mim.

E sei que mentes. Para mim, para si mesma.

Ainda assim...

Nada é mais real do que o que temos.

pequenas mortes

Postado em: por Marcio Carvalho em

"Quando um homem mente, ele mata uma parte do mundo."

E tudo o que me contaste como sendo teu é apenas a ilusão que criastes para fazer com que o nosso pequeno mundo continuasse existindo.

Cada pilar que colocamos era feito de barro, cada reino que conquistávamos eram de fantasia.

Agora que tudo chega a um fim triste e banal, olho para você e me vejo imaginando o que poderia ter sido se apenas ousássemos.

A lua me trouxe você. E com você, veio a dor. E a vergonha de saber que mesmo essa dor é bem vinda, pois me aproxima de você.

Sinto que já vivi demais.

Maldito é esse coração que não bombeia sangue, mas desejos.

Porque sei que no momento em que conseguir o que desejo, vai ser pouco e vou querer mais.

Porque sei que o teu gosto é bom.

em pedaços

Postado em: agosto 18, 2010 por Marcio Carvalho em

pedaços de mim

pequenos encontros,
um abraço, um beijo.
um sorriso de despedida,
uma lágrima.

a paisagem que passa na janela do carro,
a lua, navegando o céu cheio de nuvens.

o cabelo ao vento,
o frio do inverno.

um céu cinza,
um olhar cinza.

pernas que se tocam por baixo da mesa,
um olhar demorado.

meu coração está em pedaços.

Do amor

Postado em: agosto 14, 2010 por Marcio Carvalho em

Quando o mundo ainda era jovem e somente uma tribo caminhava sobre a terra, os antigos deuses entregaram um presente aos homens. Uma jóia cor de sangue, um rubi de sonhos. E ao sonhar, os homens estariam nos braços dos deuses, unidos a toda a criação, ligados a todas as outras criaturas do mundo, protegidos, cuidados. E ninguém se sentiria sozinho. Essa jóia chamava-se Amor.


E foi dito aos homens que guardassem a pedra, pois enquanto elas existissem, o coração do homem nunca se afastaria da deidade. O chefe da tribo, Adh-an, tinha dois filhos, Kaihn e Avehl. Os irmãos gêmeos eram os mais rápidos e mais fortes de toda a tribo e a eles Adh-an entregou a tarefa de vigiar o Amor.

E os irmãos revezavam-se na tarefa. Kaihn ficava junto à jóia durante os dias e Avehl durante as noites. E no raiar do dia e no cair da noite os dois revezavam-se. E todos os homens ao dormir, sonhavam com o Amor dos deuses.

Kaihn admirava o brilho da pedra sob a luz do sol. O toque suave e quente dos raios refletidos em sua pele eram como os de uma amante e enchia-lhe o coração e acolhia sua alma. Mas o dia sempre terminava, e ele havia de voltar para sua casa sozinho. E era para ele mais difícil afastar-se da jóia. Mas ao nascer da lua, Avehl sempre estava lá.

E o tempo passou. Os dias pareciam durar cada vez menos para Kaihn. Avehl parecia vir cada vez mais cedo. E as noites pareciam não acabar nunca. Kaihn já não sonhava o mesmo sonho que os outros. Seu sono era governado por um pesadelo onde ele estava sozinho no mundo. Não haviam mais deuses e não havia mais tribo, tampouco ele conseguia sentir o calor do Amor em seu peito. Tudo era dor, desespero e solidão.

Kaihn pedia aos deuses para sonhar o sonho do Amor novamente, mas recebia só o silêncio da noite. Ele não havia feito nada de errado, por que estava sendo castigado? Foi numa noite sem lua no céu que ele, sem conseguir mais dormir, percebeu o que acontecera. Era Avehl! Ele passava todas as noites protegendo o rubi. Ele era o único que poderia tocá-la, que poderia usá-la. De alguma maneira ele descobriu como controlar o Amor e ao fazer isso, privara Kaihn do sonho.

Avehl. Tinha quer ser ele.

E no silêncio da noite, enquanto os outros dormiam, Avehl tramava.

No dia seguinte, o sol levantou-se como sempre fazia. E as mulheres da tribo saíram para os campos, como sempre faziam. E os homens saíram para caçar, como sempre faziam. E Adh-an mandou chamar seus filhos, pois era outono e em breve seria preciso prepararem-se para o inverno. Mas Kaihn não estava em seus aposentos. O rei mandou então os homens buscarem Avehl, na sala da jóia. Talvez Kaihn estivesse lá com o irmão.

Os homens voltaram com o horror nos olhos. Avehl estava morto. Jogado no salão da jóia. Seu sangue tingia o salão de carmim. A pedra não estava em seu lugar. E Kaihn não podia ser encontrado.

Adh-an não entendeu o que lhe contaram, em princípio. Nenhum homem de sua tribo havia morrido no salão da jóia, antes. Nenhum homem havia sido assassinado. E a pedra dos sonhos estava perdida, junto com Kaihn. E Avehl havia sido morto.

O rei mandou que toda a tribo procurasse pela pedra e por seu filho.

Os homens foram em todas as direções. Mais tarde, sem ter sucesso, com a chegada da noite todos foram dormir. E enquanto dormiam, os homens tiveram sonhos com a morte, o esquecimento, o medo e a perda.

Dias se passaram e a cada noite, os sonhos se tornavam mais e mais selvagens. Agora, os homens pareciam cansados, pois tinham medo de dormir e acordarem loucos.

Uma manhã, no início do inverno, Kaihn foi encontrado. Os homens do rei haviam tido dificuldade em reconhecê-lo, pois Kaihn parecia mais um animal, vestido com restos de peles de feras mortas. Ele parecia ter perdido a sanidade e agarrava-se ao Amor com tal ferocidade que nenhum homem parecia conseguir tiro-la dele.

Adh-an foi ao encontro do filho. Entendendo finalmente que o assassino de Avehl havia sido o próprio irmão. Mas ao ver a figura do pai a sua frente, Kaihn gritou como um animal enlouquecido, e pulou no pescoço de Adh-an, matando-o com as próprias mãos. Ele então atacou o homem que segurava a pedra, arrancando-a de suas mãos.

Fugindo novamente, Kaihn foi em direção a um penhasco. Os homens da tribo o cercaram, mas ninguém se aproximava, com medo de que ele jogasse o rubi nas pedras mais abaixo.

E Kaihn chorou e lembrou-se de seu pai e do irmão. E lembrou-se dos sonhos com os deuses e com todos os animais e todos os homens juntos. E desejando sonhar novamente com o Amor, ele fechou os olhos, deixando-se cair.

Seu corpo encontrou as pedras no fundo do penhasco e Kaihn morreu. A jóia dos deuses partira-se em milhares de pedaços.

Os homens recolheram os pedaços, mas como a própria pedra, seus corações pareciam ter sido destruídos naquele dia.

Os homens voltaram para a tribo, onde fizeram um conselho para decidir o que seria feito, então. Os anciãos disseram que os deuses haviam sido desafiados com os atos de Kaihn e que a terra onde moravam havia sido amaldiçoada. Os mais fortes da tribo dividiram os pedaços do Amor entre si, nomeando-se lideres de seus clãs e esperançosos de continuarem ainda sonhando com a unidade com os deuses.

Muito tempo se passou, desde aquela época. A tribo disperso-se pelo mundo, fugindo do paraíso agora amaldiçoado. Os clãs se dividiram em tribos diferentes, que em pouco tempo eram tão numerosas quanto os cacos do rubi.

E desde então, os homens não sonham mais com os deuses. Cada um sonha com um pedaço da pedra, um pedaço da totalidade, incompleto e imperfeito. E desde então os homens sonham em encontrar o Amor completo novamente.





das coisas que fascinam

Postado em: por Marcio Carvalho em

O vento sopra forte. É dificil manter os olhos abertos. O dia está cinza e silencioso. Só o barulho do vento parece governar o mundo.


Eu caminho no parapeito. Braços abertos, as pessoas longe.

Gosto de estar aqui. Me faz pensar na vida. Nos limites, nas fragilidades.

E em como é fácil se deixar cair.

Eu olho o mundo inteiro daqui de cima. 

E por alguns instantes, tudo é menor que aquilo que posso sentir.

do que não se cala

Postado em: agosto 07, 2010 por Marcio Carvalho em

eles se olham... intensos... em silêncio. uma luz vermelha atravessa a cortina, deixando o quarto com uma atmosfera quase onírica.


ela o abraça, aperta-o forte contra si. ele a recebe em seus braços, num abraço carinhoso, mas cheio de muitos significados.

eles se beijam, calmamente. um beijo de reencontro, um beijo de primeira vez. 

ela gosta do beijo dele. é doce e intenso. tudo nele parece intenso, doce, proibido, desejado, antigo, sagrado.

ele sente com as mãos as curvas suaves do corpo dela. o beijo lhe traz lembranças que vão além da vida dele e desafia tempo e definições.

para os dois, tudo no mundo além desse quarto é baixo e sem sentido.

as roupas deixam os corpos, a vergonha deixa a alma, a culpa deixa o mundo.

eles são pele, sangue, alma e desejo.

ela se entrega. o corpo dele preenche seu corpo, os olhos dele preenchem sua alma.

ele a sente. os sussuros e gemidos dela são parte da música da criação.

eles se tocam, se conhecem, se descobrem, se reencontram. 

os corações falam, juntos, uma batida.

e lá fora, a noite se recolhe em silêncio.



do que a noite me traz.

Postado em: por Marcio Carvalho em

a noite me traz a sua ausência.

é no escuro que sinto a falta que o seu olhar me faz.

é no silêncio do sono alheio que escuto sua voz.

é o brilho da lua que me faz lembrar do seu sorriso.

é o vento noturno que me faz pensar em seu toque.

a noite me traz vc, em cada detalhe, em cada sinal.

Do cavalheirismo

Postado em: agosto 05, 2010 por Marcio Carvalho em

Por que eu sou o único cavalheiro que sobrou no mundo, hein?

E por que eu me sinto um idiota por ser assim???

Coisas que nos fazem pensar...