Do que causa dor

Postado em: setembro 15, 2010 por Marcio Carvalho em

A pele dela é suave ao toque. As mãos dele correm devagar, absorvendo cada detalhe do corpo dela.

Ele olha a luz difusa que penetra nas frestas da janela e sabe que lá fora a tarde escorre pelos céus, mas tenta não pensar no assunto. Ela suspira, acordando. Os olhos perfeitos fitam-no, curiosa.

- Você não dormiu?

- Não. Não consegui. Queria ter certeza de que não perderia nada do dia de hoje.

Ela sorri.

- Por que vc sempre diz as coisas mais fofas?

- Eu não sei. Minha mãe me criou assim, acho.

- Bobo!

Ela olha as horas. Ele sabe o que vem depois.

- Eu preciso ir.

- Eu sei.

Ela se levanta, mas ele continua na cama, observando-a encantado. Sempre adorou ficar observando cada movimento dela.

 Ela toma um banho rápido. Quando sai do banheiro, o vapor a acompanha, tentando ele também ficar com ela por mais tempo.

- Escuta. Se você quiser, pode passar a noite aqui...

Ela olha para ele. Assim que terminou de dizer a frase, ele se da conta da estupidez que acabou de cometer.

- Ei... você sabe que eu tenho que ir. Não fala essas coisas.

- Tá. Eu sei. Desculpa.

Ele é todo pensamentos, enquanto ela coloca a lingerie, evitando olhar para ele. Veste toda a roupa e calça os sapatos. A noite começa a levar a luz embora.

- Você sabe que se eu pudesse, eu ficaria.

- Eu sei. É que eu odeio quando você vai embora. Seu cheiro fica no quarto, seu gosto fica na minha boca, seu corpo fica no meu tato. Mas você não está aqui.

O quarto é tomado pelo silêncio.

Ela termina de se arrumar e dá adeus. Os olhos dela não procuram os dele. Ela caminha na direção dele.

- Eu tenho mesmo que ir.

- Tá. Eu sei. Vai...

Ela vira as costas e ele sabe que uma lágrima escorre pelo rosto dela. Ela sai do quarto.

O som da porta se fechando é o barulho do coração quando se despedaça.