De reflexos

Postado em: junho 24, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , , , , , , ,

Ela me convida para o quarto do hotel onde está hospedada, para conversarmos. O quarto é bonito, a cama onde ela se senta é grande e está arrumada da maneira perfeita que só camareiras conseguem.

Eu fico na poltrona, de frente a ela. Falamos sobre coisas frívolas, sobre a vida, sobre pessoas, sobre nós. Conto coisas que normalmente falaria, mas tudo hoje parece permitido. Acho que são os olhos que me fitam da cama, curiosos, pedindo mais.

A noite passa muito mais rápido do que eu gostaria. Lá fora a cidade que nunca dorme parece quieta. Os brilhos de milhares de luzes passando pela janela. Meus pensamentos estão meio adormecidos. Penso que foi a garrafa de vinho quase vazia sobre a mesa.

Ela pede licença para trocar de roupa. Ainda estamos com a roupa com que fomos jantar. Pergunto se ela quer que eu vá, mas ela declina. Ela pega alguma roupa na cama e vai para o banheiro.

Levanto-me para pegar uma taça e me servir do que sobrou do vinho. Sento-me de novo na poltrona e algo me chama a atenção. A luz que se estica no chão me faz segui-la até a porta do banheiro, que está entreaberta.

Lá dentro, no reflexo do espelho, ela está se trocando. Penso em avisá-la, mas percebo que não vou conseguir.

Olho, fascinado, enquanto ela tira o vestido de forma calma. Ele cai no chão. Sigo o caminho inverso, percorrendo com os olhos o corpo. Pernas, coxas, curvas. Meus olhos percorrendo cada centímetro, acumulando o máximo de detalhes possíveis.

Me sinto uma criança espiando a calcinha da amiga da escola, um adolescente observando a vizinha através das frestas da persiana.

Ela é perfeita. Perfeita e está olhando para mim.

Meu coração dispara. O cérebro diz que devo olhar para outro lado, fechar os olhos, pedir desculpas, qualquer coisa. Só o que consigo fazer é encarar os olhos negros de volta.

Lá fora, a madrugada caminha lenta. No quarto, a porta do banheiro se abre, mais e mais.