Da espera

Postado em: julho 14, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , , ,

Sua cama ficava voltada para a janela do quarto que dividia com o irmão. Ele gostava de ficar deitado ali, olhando o céu. Sempre gostara do céu.

Mas o maior espetáculo que essa visão proporcionava acontecia nos finais de tarde dos verões quentes  do Rio de Janeiro. Algumas vezes, o brilho do sol do final da tarde ficava subitamente mais forte. Tudo no mundo ficava brilhante. E a brisa fraca parava de circular.

O ar ficava opressivo, sobrecarregando os sentidos. E sabendo o que aconteceria em seguida, ele corria para a janela do quarto. No horizonte, imensas nuvens apareciam por trás dos morros. Gigantes que aos poucos iam tomando toda a visão do céu. Nuvens escuras, azul-acinzentadas moviam-se serpenteando suas formas mutantes.

O ar parado ficava carregado de uma eletricidade hipnotizante. O brilho ia cedendo espaço para a sombra que parecia tomar conta do mundo. As nuvens dançavam, mesclando-se umas às outras, revolucionando, brigando entre si.

O menino segurava a respiração, maravilhado com cada detalhe. Medo e admiração misturados.

De repente, um risco cortava o céu ao longe e o silêncio do mundo acaba.

E ele sempre pensava em Deus, quando olhava a tempestade.