Da certeza

Postado em: dezembro 31, 2010 por Marcio Carvalho em

Tenho a certeza em mim.

E é ela quem machuca, mais do que a negação, mais do que a dúvida.

É ela quem corrói os pensamentos.

É ela quem ataca os sonhos.

E é ela quem me faz acreditar.

Da poesia

Postado em: por Marcio Carvalho em

Nos sonhos encontro a realidade que o mundo insiste em transformar em devaneio.

Vivo nos lampejos de beleza que o mundo me proporciona.

Neles me alimento, deles me nutro.

Absorvo a dor de viver, percebo seus detalhes, aprecio a clareza que ela me traz.

Assim encontro minha poesia.

Da tristeza

Postado em: por Marcio Carvalho em

Pior que a raiva é o esquecimento.

Da morte

Postado em: dezembro 29, 2010 por Marcio Carvalho em

A morte é a ausência de amor.

A morte... é a ausência de você.

Do que não é dito

Postado em: por Marcio Carvalho em

Em cada curva do seu corpo mora um poema esperando ser escrito.

Da chuva

Postado em: por Marcio Carvalho em

A gota escorre pela janela.

Dentro dela há um mundo refletido.

Ela faz seu caminho sinuoso,  em direção ao nada.

Na sua vida breve, ela encerra em si toda a poesia.

Frágil e bela, única, inesperada, sensual.

Do fim do mundo

Postado em: por Marcio Carvalho em

Finjo que o mundo termina toda vez que tenho que dizer adeus.

e finjo que ele é recriado cada vez que a vejo.

Assim é como deveria ser. Pensar em qualquer outra possibilidade é complicado demais.

Do que é preciso

Postado em: por Marcio Carvalho em

"Não precisa fazer isso por mim."

"Preciso. E quando entender que eu preciso, você e eu vamos nos entender tão melhor."

De mim

Postado em: por Marcio Carvalho em

Não há respostas em mim.

Mas encontrarás aqui as perguntas que sempre procurou.

Não sei do futuro.

Sei do que há agora, sei do que é preciso.

Não tenho a cura para o medo.

Mas sei que onde o medo perde o sentido.

Não falo de amor calmo.

Falo de entrelaçamento de almas e corpos.

Não sei prometer o infinito.

Sei entregar-me todo.

Da verdade

Postado em: por Marcio Carvalho em

Afasto você de mim.

E te sigo.

Nego o que quero

E sonho todas as noites.

Digo que não.

E grito que sim.

Estendo a mão e espero o nada.

Complexo.

Só sei viver a complexidade.

A simplicidade é para os fracos.

Da noite

Postado em: por Marcio Carvalho em

O silêncio corta tanto quanto a navalha.

Mas o sangramento não pode ser estancado.

Dos pedaços

Postado em: por Marcio Carvalho em

Percorro com os dedos as curvas de seu corpo.

De olhos fechados, em silêncio. Quase um ritual.

Absorvo todas as sensações: a textura, o calor, os gemidos, a respiração entrecortada.

Depois, olho para você com a intensidade de quem diz adeus.

Seus olhos são um poço onde os meus mergulham até se perderem.

Guardo em mim o gosto do seu corpo, a boca, a língua.

E tudo é forte e novo, real e devaneio.

Você tatua minha alma com fogo, gozo, dente e unha.

Da melancolia

Postado em: por Marcio Carvalho em

Minha velha amiga está de volta.

Sempre companheira em momentos como esse.

Quando o dia terminar, quando os sons da vida cessam, quando os pensamentos insistem em viajar para lugares escuros e frios, eu sei que ela não demora.

Mel, doce e ácida melancolia.

Minha amante mais fiel. Seu abraço é silencioso e duradouro.

Com seus dedos negros, toca fundo meu coração.

Faz calar as batidas, leva embora qualquer vestígio de calor.

Ela me sussurra que a esperança é uma lenda, enquanto acaricia meus cabelos.

Seus olhos refletem minha alma em um mundo vazio de sentido.

Desejo e repudio seus carinhos com a mesma intensidade.

Sei que ela me ama tão intensamente quanto é possível.

Sei que ela sempre estará lá, ao meu lado.

Sei que as portas de sua casa sempre estarão abertas.

Basta que eu me permita.

Da morte

Postado em: dezembro 27, 2010 por Marcio Carvalho em

Não tenho medo da morte.

O que pode ela me fazer sofrer que meu coração já não tenha feito em vida?

Dos poetas

Postado em: por Marcio Carvalho em

Por que me é tão claro o caminho a seguir,

Mas é tão difícil alcançá-lo?

Me chamaram de poeta

E disseram que a poesia era perfeita.

Mas nessa noite eu recuso esse caminho,

Eu largo papel e pena, palavra e música.

Nessa noite sou homem, sou mortal, sou imperfeito

E nessa revolta, encontro meu destino.

Pois o que todo poeta quer é ser amante.

Em pedaços

Postado em: por Marcio Carvalho em

Seu mundo foi construído aos poucos. Pequenos pedaços, peças que se encaixaram mesmo quando ela sabia que eram quase impossível que ali estivessem.

Ela tem orgulho da construção. Admira-a. Protege-a enquanto é possível.


E todo dia uma peça é acrescentada. Feita com pensamentos, emoções, diálogos, experimentos, certezas, sorrisos e choro.

A construção aos poucos toma a forma de sua imagem.

Mas ela sabe que falta-lhe uma peça.

E ela sabe onde encontrar esse pequeno pedaço de si. E ela sabe que mesmo que construção a cada dia fique mais e mais parecida consigo mesma, ela nunca vai estar completa.

Pois falta-lhe um pedaço do coração.

Da eternidade

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eternidade feita de pequenos momentos.

Em palavras ditas em sussurros num quarto escuro.

Vida disfarçada em busca incessante.

Certeza de que apenas o final do caminho é inexorável.

Tudo o mais é fluido, temporário e incerto.

Como um adeus vacilante.

Não gosto de despedidas. Não gosto de conclusões.

Queremos decisões demais. Queremos explicações demais.

Quando foi que o sentir perdeu o sentido?

Do que se entrega

Postado em: dezembro 23, 2010 por Marcio Carvalho em

Um pacto foi feito.

Em silêncio, em uma troca de olhares, um pacto é realizado.

Do que se vê

Postado em: por Marcio Carvalho em

Porque em mim você é perfeita.

Do que causa dor

Postado em: por Marcio Carvalho em

Minha alma dói.

É uma dor fraca às vezes. E às vezes tão forte que ela parece ser a maior do que se pode aguentar.

Minha alma deixa pedaços de si pelo mundo.

Em pessoas, lugares. Em momentos.

E esses pedaços não a diminuem. Eles a tornam maior.

Do que nunca morre

Postado em: por Marcio Carvalho em

O amor nunca morre?

Pode um sentimento humano ser tão forte diante de todas as incongruências da vida, diante de todos os erros, diante de todas os desencontros que dure o tempo de uma vida inteira?

Se se ama alguém e deixa-se de conviver com a pessoa amada, o amor enfraquece até se tornar apenas um conjunto de lembranças boas, uma nostalgia?

Se um dia mudamos, é possível apenas olhar em outra direção e caminhar? Teria a pessoa outrora amada se tornado uma uma desconhecida?

Eu acredito no amor.

Eu acredito que o amor possa durar uma vida. Acredito que quando se ama realmente e verdadeiramente alguém, esse amor sobrevive.

Podemos seguir caminhos diferentes. Podemos deixar o medo ser mais forte que o amor em algum momento. Podemos sucumbir à raiva, ao desejo, à toda sorte de emoções que nos fazem humanos e falhos, mas o coração mora na nossa parte que é mais perto da divindade.

Eu amo. Sei que amo, sei que esse sentimento é maior que todas as coisas pequenas, mesquinhas e perdidas que existem em mim.

E sei que esse amor não vai morrer.

Da cumplicidade

Postado em: dezembro 14, 2010 por Marcio Carvalho em

O corpo dela é quente. Eles se tocam, se buscam.

Há uma urgência nos movimentos dos dois.

A luz é fraca, o ar é denso de significados.

O gosto dela é bom. As bocas se encontram, se misturam.

Ele segura firme o corpo dela perto de si.

Eles se olham. As mãos dele descem as curvas das costas dela.

Ela curva seu corpo perto do rosto dele. Ele sente a textura da pele dela com a língua.

Os corpos falam em gemidos e silêncios, em olhares, bocas, gostos, toques.

Os corpos falam e o mundo se cala.

Do viver

Postado em: por Marcio Carvalho em

Aprendi a me arrepender apenas por erros que cometi.

Aprendi a deixar o coração falar e a razão escutar.

Encontrei as maiores explicações sobre a vida em momentos sem palavras.

Encontrei quando me despedi o que achei que havia perdido em mim.

Apaixonei-me. Por pessoas, por lugares, por detalhes.

Vivi sonhos. Sonhei uma vida.

Aprendi a calar o medo com o estalo de um beijo.

Aprendi a calar o mundo com uma canção.

Construí castelos de areia que vi serem desmanchados com um sorriso.

Porque é tudo efêmero.

Porque o medo é passageiro, porque as pessoas vão embora, porque o que fica é o que experimentamos.

Do vento

Postado em: por Marcio Carvalho em

Gosto sempre de imaginar seus cabelos ao vento.

Porque é a síntese de como imagino você.

O balanço, os infinitos desenhos e padrões formados.

Gosto quando o cabelo encobre parcialmente seus olhos.

Acho que é o momento em que é mais fácil se perder neles.

Ou se encontrar.

Do que aprendi.

Postado em: dezembro 07, 2010 por Marcio Carvalho em

Olhos mais lindos que a mais preciosa pedra buscam por uma explicação onde só há o caos. E nesse caos, ela percebe que a ordem é apenas um ponto de vista.

Da dor

Postado em: por Marcio Carvalho em

A palavra corta mais profundo e fere mais permanentemente que a lâmina.

De você

Postado em: por Marcio Carvalho em

O que sinto é sujo.

É feito de pensamentos sórdidos, de saliva, de pele, de gemido, de dor, de prazer e de gozo.

O que sinto é lírico.

É feito de versos, de poemas escritos em papel de guardanapo, é feito de canções, de olhares.

O que sinto é épico.

É feito de longas despedidas, de brigas, de fugas, de choro de madrugada.

O que sinto é fulgaz.

É feito de momentos transitórios, é feito de detalhes que passar, de cores que desbotam.

O que sinto é profundo.

É feito de coração, corpo, alma, sangue e sonho.

O que sinto é feito de você.

Da felicidade

Postado em: por Marcio Carvalho em

De mãos dadas, eles olham o céu noturno.

As estrelas iluminam os dois em uma luz pálida e levemente azulada.

Eles ficam em silêncio. O mundo fica em silêncio. O universo fica em silêncio.

E ali, naquele instante, eles são felizes.

Do que se procura

Postado em: por Marcio Carvalho em

"Você devia se deixar levar pelo que sente."

"Mas eu não posso. Eu sinto demais, quero demais. E tudo o que sinto e quero muda o tempo todo. E se eu me perder?"

"E se você se achar?"

Da verdade

Postado em: por Marcio Carvalho em

A vida é injusta.

Como é injusto o coração.

Egoísta, carente, amoral.

O coração não ouve nada além de suas próprias batidas.

Da dança

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eles dançam no meio do salão. Os refletores os iluminam, criando uma atmosfera de ilusão no mundo. Nas sombras, os olhos de todos os convidados os observam, alguns com esperança, outros com inveja. Mas sempre com a reverência de quem assiste a algo único.

A música preenche o ar.

Os olhos dele cruzam incessantemente o olhar dela.

Ele acaricia de leve a mão dela, enquanto eles se movem na dança.

No silêncio dela, ele ouve promessas de amor eterno. Mas dos seus lábios ele ouve o afastamento das palavras.

Ela deseja ser guiada, mas o medo e as dúvidas a seguram.

Ele deseja que a dança dure para sempre. Deseja calar as palavras receosas dela com um beijo.

Ele quer ser o par dela eternamente.

O corpo dela responde a esse desejo. Os olhos dela respondem aos olhares dele.

O coração dela bate em uníssono com o coração dele.

Mas perto do último acorde, ela hesita.

Do que perfura

Postado em: por Marcio Carvalho em

O coração perfurado sangra.
O líquido rubro escorre, lenta e continuamente.
O órgão bombeia o próprio sangue para fora.
Uma dor agonizante toma o peito.
Aos poucos a dor se torna um vazio.
A seta é precisa em sua trajetória.
Sempre, sempre acerta o alvo.
Com uma ponta de ferro chamada amor.

Do que não se pode entender

Postado em: novembro 25, 2010 por Marcio Carvalho em

Ele se despe de tudo o que carrega,

Todas as culpas, todas as fugas, todos os medos.


E ali, frente a ela, nu de tudo o que é mundano, ele a ama.

E o resto, o resto é detalhe.

Porque algumas histórias foram escritas antes de seus protagonistas existirem.

Porque alguns destinos são inevitáveis.

Do que não pode acontecer.

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eles se olham por um longo instante. Lágrimas nos olhos, corações cheios de sentimentos, os brilhos nos olhares.

O beijo que não acontece é o mais puro símbolo do que eles têm.

O mundo lá fora precisa continuar. A porta do quarto precisa ser aberta, o adeus precisa ser dado.

Mas aquele instante, aquele quase-beijo, aquele olhar vai ficar para sempre na alma dos dois.

Dos momentos

Postado em: outubro 29, 2010 por Marcio Carvalho em

Descobriu uma maneira de parar todos os relógios do mundo.

E naquela tarde, um segundo durou o tempo de uma vida.

Viajaram juntos.

Subiram o Empire State, viram a cidade que ia até o horizonte em todas as direções.

Sentaram-se juntos nas pedras, em frente ao mar.

Caminharam por ruas antigas, observando todas as pessoas congeladas em seu momento infinitamente duradouro.

Observaram abraçados as estrelas do céu, enquanto ele fazia desenhos de constelações com a ponta do dedo.

Fizeram amor num parque. E no saguão de um palácio. Amaram-se em cantos escuros e em uma roda gigante.

Juraram amor eterno.


E brigaram e fugiram um do outro.

Percorreram o mundo sozinhos, só para se encontrarem novamente.

Ela escreveu para ele um poema que nunca foi lido.

Ele a pintou em cores e formas e texturas nunca mais vistas.

No silêncio de um mundo paralizado, foram felizes.

Mas o amor eterno foi só por um momento.

E no fim daquele segundo, o mundo voltou ao seu ritmo.

Ela se despediu dele com um beijo estalado na bochecha.

Ele ficou vermelho, enquando observava ela ir embora.
 

Should I?

Postado em: por Marcio Carvalho em

I should go to sleep.
I should let all the things that I`m feeling now behind and just forget you.
I should try this other road.
I should change my beliefs.
I should forget all the people that make me feel as I am the least important person alive.
I should try to feel less unconfortable around people I don't know.
I should spear more with my friends. The real ones, I mean.
I should not let this need for attention fill up all the remaining hours of my day.
I should not believe in anyone that says that love dies.
I should look at the moon all the nights.
I should make another tatoo.
I should hold you tight before you go.
I should say that I love you.
I should never let you go.
I should love you like there's no tomorrow.

Because in the end all the things that matter are the ones we should have done.

Sobre ser feliz

Postado em: outubro 18, 2010 por Marcio Carvalho em

O que prefere?

O hoje ou o amanhã?
 

De absurdos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Vivo em momentos. Em fatias de tempo que são eternas enquanto existem.

Quero agora. Não sei o que vai ser do depois. Não sei o motivo no passado que me fez querer.

Sigo uma estrada de curvas fechadas, sigo um caminho em desfiladeiro.

Lá embaixo há um abismo que me atrai tanto quanto o meu destino seguro.

E sei que em muitos momentos o desejo do abismo é maior.

Viver tem sido isso, a luta infinda entre dois caminhos.

Alguns dias sou abismo, alguns dias sou estrada.

Mas a maioria deles sou limiar.

Tatuagem

Postado em: por Marcio Carvalho em

Quer marcar o corpo, como quem assina um documento.

Quer marcar o momento na sua pele.

Porque ele não pode ver a marca em sua alma.

De pactos, segredos e lágrimas

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ela cede ao imperativo do próprio corpo e beija-o violentamente, com a intensidade de alguém que luta contra si mesmo.

Não há sons além de gemidos e o barulho rápido da respiração deles. Ela prefere que seja assim. Teme que se alguma palavra for dita, todo o momento pode ser perdido, sobrando-lhe só a vergonha e o desejo não satisfeito.

As roupas caem ao chão, jogadas. Não há delicadeza, não há cuidado. Estão ali para atrapalhar. Estão ali só para lembrar que lá fora há um mundo com regras. Mas dentro daquele quarto as regras do mundo externo estão banidas.

Os corpos se tocam, lânguidos, em busca um do outro. Ela se sente quente. Ele a segura firme e a deita na cama.

Os olhares se cruzam. Segredos são trocados entre as batidas de dois corações.

Os corpos se cruzam. Ela o puxa para si com força.

Não é sexo que eles estão fazendo. Tampouco eles fazem amor.

Ela sabe que eles estão fazendo um pacto.

Ela quer sentir a alma dele dentro de si. Ela quer que ele nunca saia de dentro dela. Ela quer que as roupas jogadas no chão nunca mais sejam usadas. Ela quer que a porta do quarto nunca mais seja aberta.

Os sentimentos que ela experimenta ali, naquele quarto são novos. Seu coração enche-se de repostas pela primeira vez.

Uma lágrima escorre brilhante do rosto dela e some em direção ao colchão.

Ela quer morrer ali. Porque qualquer outra alternativa seria insuportável.

Das dores

Postado em: por Marcio Carvalho em

Há dores que se sente porque são necessárias.

Há momentos em que só a dor nos faz enxergar direito.

Em outros, ela cega, tira a perspectiva, elimina esperanças.

E há dores que são belas, mesmo sendo dor, pois só elas nos fazem pensar que senti-la é melhor que passar pelo mundo sem sentir nada.

Pois o vazio é pior que a dor.

De paralelepípedos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Alguns segredos guardamos para nós mesmos apenas porque é mais divertido assim.

A menina caminha sorrido, pé ante pé. De braços abertos equilibra-se nos paralelepípedos da rua de sua casa, na volta da escola. De vez em quando ela fecha os olhos e imagina-se entre dois mundos diferentes.
Sem pertencer totalmente a nenhum dos dois lados, ela se sente atraída tanto por um quanto pelo outro.
Rua e calçada, diversão e segurança, dúvida e certeza.

Vestida no uniforme escolar, sorrindo de braços abertos e olhos fechados, a menina definia assim como seria uma vida inteira.

Do que queremos

Postado em: outubro 11, 2010 por Marcio Carvalho em

É inteiramente lamentável como o mundo é só saudade quando se quer que as coisas se acalmem.

Do céu nublado às músicas que tocam no computador, todas as coisas têm um nome gravado nelas.

O quanto se deve esperar? O quanto se deve confiar apenas no tempo?

O que dizer? Para onde olhar? Como agir?

Porque o abraço é o que a alma quer. Porque sentir o toque é o que a pele quer.

Porque estar nos seus pensamentos, nos seus sonhos, nos seus momentos íntimos é o que cada partícula em mim quer.

I would do anything for love (but I won't do that)

Postado em: por Marcio Carvalho em

And I would do anything for love,
I'd run right into hell and back.
I would do anything for love,
I'll never lie to you and that's a fact.

But I'll never forget the way you feel right now, oh no, no way.
And I would do anything for love,
Oh I would do anything for love,
I would do anything for love,
But I won't do that,
No I won't do that.

And some days it don't come easy,
And some days it don't come hard,
Some days it don't come at all, and these are the days that never end.

And some nights you're breathing fire.
And some nights you're carved in ice.
Some nights you're like nothing I've ever seen before or will again.

And maybe I'm crazy.
Oh it's crazy and it's true.
I know you can save me, no one else can save me now but you.

As long as the planets are turning.
As long as the stars are burning.
As long as your dreams are coming true, you'd better believe it!

That I would do anything for love,
And I'll be there till the final act.
And I would do anything for love,
And I'll take the vow and seal a pact.

But I'll never forgive myself if we don't go all the way, tonight.

And I would do anything for love,
But I won't do that.
No, I won't do that!

I would do anything for love,
Anything you've been dreaming of,
But I just won't do that.
[x2]

[Solo]
And some days I pray for silence,
And some days I pray for soul,
Some days I just pray to the god of sex and drums and rock 'n' roll!

And maybe I'm lonely,
That's all I'm qualified to be.
There's just one and only, one and only promise I can keep.

As long as the wheels are turning.
As long as the fires are burning.
As long as your prayers are coming true, you'd better believe it!

That I would do anything for love,
And you know it's true and that's a fact.
I would do anything for love,
And there'll never be no turning back.

But I'll never do it better than I do it with you, so long, so long.
And I would do anything for love,
Oh, I would do anything for love,
I would do anything for love,
But I won't do that.
No, no, no, I won't do.....

I would do anything for love.
Anything you've been dreaming of.
But I just won't do that!
[x3]

But I'll never stop dreaming of you,
Every night of my life.
No way.

And I would do anything for love.
But I won't do that.
No I won't do that.


[Girl]
Will you raise me up, will you help me down?
Will you get me right out of this God forsaken town?
Will you make it all a little less cold?

[Boy]
I can do that. Oh I can do that.

[Girl]
Will you cater to every fantasy I've got?
Will you hose me down with holy water, if I get too hot? Hot!
Will you take me places I've never known?

[Boy]
Now I can do that! Oh oh now, I can do that!

[Girl]
After awhile you'll forget everything.
It was a brief interlude
And a midsummer night's fling,
And you'll see that it's time to move on.

[Boy]
I won't do that. I won't do that.

[Girl}
I know the territory, I've been around,
It'll all turn to dust and will all fall down,
Sooner or later, you'll be screwing around.

[Boy]
I won't do that. No, I won't do that.

Anything for love,
Oh, I would do anything for love,
I would do anything for love,
But I won't do that.
No, I won't do that.

Meat Loaf - I would do anything for love (but I won't do that)

How soon is now?

Postado em: outubro 10, 2010 por Marcio Carvalho em

I am the son
and the heir
of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
of nothing in particular

You shut your mouth!
how can you say
I go about things the wrong way?
I am human and I need to be loved
just like everybody else does

I am the son
and the heir
of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and the heir
of nothing in particular

You shut your mouth!
how can you say
I go about things the wrong way?
I am human and I need to be loved
just like everybody else does

There's a club if you'd like to go
you could meet somebody who really loves you
so you go, and you stand on your own
and you leave on your own
and you go home, and you cry
and you want to die

When you say it's gonna happen "now"
well, when exactly do you mean?
see I've already waited too long
and all my hope is gone

You shut your mouth!
how can you say
I go about things the wrong way?
I am human and I need to be loved
just like everybody else does.

Do que me faz tão mal

Postado em: por Marcio Carvalho em

O que eu sinto é doce e insensato.

Sonhos infantis, delírios.

Desejos reprimidos pelos anos.

O que eu sou é inconstante.

Um mar dentro de mim.

E tempestades.

O que eu digo é verdadeiro.

Até os absurdos,

Até os exageros.

Tudo em mim é urgência,

Urgência de vida, de sentido.

De você.

Das metáforas do amor

Postado em: por Marcio Carvalho em

Porque o amor corrói mais que qualquer dor. O amor é egoísta, é cego à realidade, nos faz errar, nos faz caminhar sem rumo no mundo.
O amor corrompe, nos faz entregar o que é melhor em nós em troca de migalhas, o amor nos faz saltar em direção a abismos infinitos.
A flecha do cupido rasga o coração em pedaços. Amar é deixar pedaços de você com alguém que faz o que quer deles.

Amar é ouvir a canção que não toca em lugar algum, é sentir-se só no meio da multidão, é olhar para o mundo e ficar perdido nos detalhes.

Amar é anular-se.

E amar é a única coisa que vale a pena nessa vida.

Do corpo, da alma, do todo.

Postado em: outubro 05, 2010 por Marcio Carvalho em

A dor de me despedir de você é o veneno suave que libera a alma do corpo.

Mas o corpo sem a alma não sente nada além da expectativa do retorno.

E a alma sem corpo sente só o desejo do reencontro.

Então vem pra mim. Traz minha alma, encontra meu corpo.

Me faz um de novo, dentro de você.

Jardim dos caminhos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ele olha os mosaicos no piso do restaurante e pensa nos dois. Em todos os caminhos cruzados, em todos os becos sem saída, em todas as possibilidades.

E nos olhos dela ele encontra os mosaicos das vidas dos dois. Todos os erros, todos os acertos, todas as perdas, todos os encontros.

E no salão movimentado, eles fazem escolhas em silêncio que vão sobreviver para sempre.

Do que se oculta no silêncio

Postado em: por Marcio Carvalho em

O amor mora no silêncio cheio de segredos dos amantes.

Promessas trocadas em um toque involuntário de mãos.

Pernas que se demoram longamente em um roçar ingenuamente devasso.

O amor mora no ato involuntário de entrega.

O corpo trai a razão.

Do corte

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ela tem a beleza do fio da navalha.

A beleza do limite entre o que encanta e machuca.

Na lâmina eu vejo meu reflexo

E o brilho prateado corta minha alma em duas.

Do que vive em nós

Postado em: setembro 28, 2010 por Marcio Carvalho em

Ela desenha corações no canto da página do caderno. Os olhos estão distraídos, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo.

A página está completa de palavras. Tentara escrever uma definição sobre ela mesma. Mas a cada palavra, a cada oração, a cada linha preenchida, ela sabia que estava apenas se afastando do objetivo.

Parou depois de algum tempo. Os pensamentos fugiram dali e foram parar no canto da página, em forma de pequenos corações desenhados em grafite.

E na incapacidade de se definir em palavras, ela se encontrou ali, em infinitos corações.

Omnia mutantur

Postado em: setembro 27, 2010 por Marcio Carvalho em

Não seja o que as pessoas esperam de você.

Seja o que você espera .

E seja fiel.

De mim

Postado em: por Marcio Carvalho em

O que é mais sublime em mim é também o que mais escondo do mundo.

Sim, penso que me definir é se perder de mim.

O que é mais intenso nas palavras que deposito na tela do computador é o peso que elas tiram de mim.

Não as lembro depois que escrevo. Efêmeras e ainda assim, elas carregam o peso da minha alma.

Cada palavra é uma cicatriz.

Religião

Postado em: por Marcio Carvalho em

E todas as coisas serão sagradas, jogadas no colchão desarrumado.

As paredes do quarto formam a nossa catedral,

O sexo é nossa oração.

Aqui morremos e renascemos,

Os seus gemidos são uma confissão,

E eu transformo meu corpo em carne e sangue.

Em comunhão, somos um.

De joelhos, eu te adoro,

Minha vida em você.

Quente e úmido é meu paraíso.

Sós

Postado em: por Marcio Carvalho em

Nós somos o infinito de possibilidades,
Somos o caos, berço de deuses,
A probabilidade do inimaginável.

Nós somos filhos da terra e do céu,
O interminável retorno,
Somos o peso, a leveza.

Nós somos a certeza da partida,
Nós somos despedidas sem voltas,
Somos o perder-se em memórias.

Nós somos poetas perdidos,
Somos o pó, a sombra,
Nós somos o silêncio.

Nós somos a morte do que é esperado,
Nós somos a nêmesis do tédio,
O fim de tudo o que é perfeito.

Nós somos nós,
Nós somos sóis,
Nós somos sós.

Perfeição em pedaços

Postado em: setembro 21, 2010 por Marcio Carvalho em

Como um quebra-cabeças, não se pode apreciar o amor aos pedaços.

Mas cada detalhe é essencial.

Do que é inevitável

Postado em: por Marcio Carvalho em

O clichê é a morte são as únicas certezas da vida.

Hiperbólico

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu vivo o irreal.

Alimento-me do que não pode ser tocado.

Sorvo a essência do que é etéreo.

Observo o vazio.

A totalidade de tudo o que não foi concretizado me seduz.

É ali que encontro o que me define.

Do que é cura e é fatal

Postado em: por Marcio Carvalho em

A paixão corrompe.

Instila dor, instila veneno que queima nas veias.

Desatina o corpo, desfoca.

Desmonta, incendeia, vampiriza.

A paixão mata o indivíduo.

E a paixão salva, inspira, desafia.

A paixão mente.

E esclarece.

A paixão termina. A paixão recria.

A paixão é caos, é ordem, é imperativo.

A paixão faz nascer.

A paixão afasta.

E afaga.

A paixão, a paixão sou eu.

Marcas

Postado em: por Marcio Carvalho em

A gota de sangue escorre pelo braço dele. Ele a observa, extasiado. O vermelho brilhante refletindo a luz. Uma jóia líquida, preciosa, vital.

As marcas deixadas no corpo dele vão se curar, as cicatrizes vão sumir.

Mas a alma dele vai carregar as marcas de lembrança desse encontro para sempre.

Segredo

Postado em: setembro 20, 2010 por Marcio Carvalho em

Abro meu peito.

O sangue escorre, vermelho e quente.

Não há dor.

Dentro de mim só há espaço para uma sensação, agora.

Porques

Postado em: por Marcio Carvalho em

É fácil amar.

É fácil fazer amar.

Difícil é o manter.

Do que causa dor e faz viver

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu sou todo saudades e desejos.
Sou feito da dor de viver
Que me alimenta de sonhos.

Eu faço castelos de areia.
Que são destruídos logo depois de terminados.

Porque não acredito que nada deve ser permanente.

Só o criar, o refazer.

Reinvento o que amo todos os dias
E dói cada vez que o amor morre
E é bom demais cada vez que ele renasce.

Gosto de andar em paralelepípedos
E gosto de andar à noite.

Gosto de olhar o abismo
E gosto de saber que ele me olha de volta.

Sou grande demais para ser contido.
Então escapo de dentro de mim em palavras.

Das despedidas

Postado em: por Marcio Carvalho em

A parede do quarto da menina é coberta de fotos.

Objetos, lugares, pessoas, tudo congelado no tempo e colado com tachinhas, fita adesiva ou cola.

Aquele é o pequeno segredo dela.

Tudo o que ela ama está ali, na parede.

Assim ela nunca precisa dizer adeus a nada.

Voyeur

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ele observa o corpo dela.

Percorre com o olhar as curvas desnudas de suas costas.

A luz do luar a cobre de uma luminescência pálida.


Ela o observa. Olhos envoltos em sombra.

Ele sente o olhar chamando por ele.


Ele a abraça. O toque da pele dela é suave.

O cheiro dos cabelos dela o faz fechar os olhos, absorto.

Ela encosta o corpo no dele.

Eles se beijam.


A língua dela busca por ele, seus lábios são quentes.

As mãos percorrem as costas dela, memorizando cada pedaço do corpo dela.

Ele pressiona o corpo dela contra o seu.

Ele a ouve gemer.

Ela sussurra o nome dele.

Ele a gira, ficando por trás dela.

Na frente dela, um espelho grande e antigo está encostado na parede.

Ela se vê e a ele.

Por trás dela, os lábios dele exploram seu pescoço.

Ela fecha os olhos. Ele fala que não. E aponta o rosto dela para o reflexo dos dois.

Ele continua a beijá-la.

Uma das mãos dele desce pelo corpo dela, devagar, mas firme.

Ela observa o espelho.
No reflexo, uma mulher está nua, nas sombras atrás dela um homem beija-a. A mão dele está entre suas coxas.

Sem identidade, sem medo e sem culpa, a mulher no espelho geme de prazer e olha de volta.

Das coisas que eu não disse

Postado em: setembro 15, 2010 por Marcio Carvalho em

No seu silêncio, vivi uma vida.

Fomos amantes, confidentes na cama, melhores amigos.

Fugimos juntos, dormimos sob a lua, brigamos.

Você me conquistou de volta quando me tornei blasé.

Eu te escrevi todos os poemas do mundo.

Você fugiu, eu também.

Eu tive ciúmes, você chorou.

Eu te dei presentes, você me deu um filho.

Casamos. E moramos juntos. E vivemos juntos.

Mas fomos por caminhos diferentes.

Você se casou de novo. Eu tive outro filho.

E olhamos fotos juntos.

Choramos.

E sorrimos, sentados no banco.

Eu te amei, sempre te amei.

Você me deu uma vida.

Eu te dei meus sonhos.

E nunca vou te esquecer.

Do beijo

Postado em: por Marcio Carvalho em

Gosto de chiclete de canela e sonho.

Do crime

Postado em: por Marcio Carvalho em

O sorriso dela me rouba.

Leva embora o juízo,

Rapta minha alma,

Me deixa refém de um capricho feminino

Assim, doce e perverso.

Me assalta os sentidos,

Violenta minhas certezas,

Toma de refém meu coração.

Do que causa dor

Postado em: por Marcio Carvalho em

A pele dela é suave ao toque. As mãos dele correm devagar, absorvendo cada detalhe do corpo dela.

Ele olha a luz difusa que penetra nas frestas da janela e sabe que lá fora a tarde escorre pelos céus, mas tenta não pensar no assunto. Ela suspira, acordando. Os olhos perfeitos fitam-no, curiosa.

- Você não dormiu?

- Não. Não consegui. Queria ter certeza de que não perderia nada do dia de hoje.

Ela sorri.

- Por que vc sempre diz as coisas mais fofas?

- Eu não sei. Minha mãe me criou assim, acho.

- Bobo!

Ela olha as horas. Ele sabe o que vem depois.

- Eu preciso ir.

- Eu sei.

Ela se levanta, mas ele continua na cama, observando-a encantado. Sempre adorou ficar observando cada movimento dela.

 Ela toma um banho rápido. Quando sai do banheiro, o vapor a acompanha, tentando ele também ficar com ela por mais tempo.

- Escuta. Se você quiser, pode passar a noite aqui...

Ela olha para ele. Assim que terminou de dizer a frase, ele se da conta da estupidez que acabou de cometer.

- Ei... você sabe que eu tenho que ir. Não fala essas coisas.

- Tá. Eu sei. Desculpa.

Ele é todo pensamentos, enquanto ela coloca a lingerie, evitando olhar para ele. Veste toda a roupa e calça os sapatos. A noite começa a levar a luz embora.

- Você sabe que se eu pudesse, eu ficaria.

- Eu sei. É que eu odeio quando você vai embora. Seu cheiro fica no quarto, seu gosto fica na minha boca, seu corpo fica no meu tato. Mas você não está aqui.

O quarto é tomado pelo silêncio.

Ela termina de se arrumar e dá adeus. Os olhos dela não procuram os dele. Ela caminha na direção dele.

- Eu tenho mesmo que ir.

- Tá. Eu sei. Vai...

Ela vira as costas e ele sabe que uma lágrima escorre pelo rosto dela. Ela sai do quarto.

O som da porta se fechando é o barulho do coração quando se despedaça.

Harmonia perigosa

Postado em: setembro 06, 2010 por Marcio Carvalho em

Duas estrelas orbitam-se mutuamente. Uma dança celeste, o brilho de uma se soma a outra.

A tensão das forças é impensável.

A gravidade promete esmagá-las num encontro mortal, ao mesmo tempo em que joga uma longe da outra.

Ainda assim, nesse jogo mortal, elas se mantêm num equilíbrio delicado.

Apesar do perigo, uma sem a outra seriam nada além de estrelas comuns.

Da arte

Postado em: por Marcio Carvalho em

Na sala de cinema, os dois se dão as mãos.

Dedos se entrelaçam, trocas de carícias.

Unhas arranham de leve a pele.

No escuro e em silêncio eles trocam juras de amor em forma de toque.

As luzes se acendem, as mãos se soltam, relutantes.

O mundo separa o que a arte uniu.

De escrever

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ele queima as páginas uma a uma.

Elas vão se iluminando, brilhando com a chama que as consome aos poucos. A fumaça dança no ar, elevando-se rápida.

Ele observa tudo, imaginando as letras transformadas em fumaça, as idéias viajando pelo ar, sopradas pelo vento.

Ele termina de queimar os textos.

E dentro dele, mais idéias exigem ser libertadas.

Do que se deseja

Postado em: por Marcio Carvalho em

A mariposa segue em direção ao fogo, fascinada.

Deseja o calor, o brilho, o poder.

O fogo observa a mariposa, fascinado.

Deseja a liberdade, a beleza, o vôo.

Destinados a se consumir, fogo e mariposa sonham um com o outro.

Do que se vai mas nunca é perdido

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ela abre o álbum de forma displicente. Os outros parentes estão vendo as fotos da família e sua mãe insistiu para que ela também participasse do ritual das reuniões de família. Apesar de gostar de participar do evento e até mesmo se divertir com vários deles, a menina não queria muito ver as fotos. Tantas coisas para pensar, não queria perder tempo olhando para as imagens congeladas das mesmas pessoas que estavam a sua volta.

Mas por conta da insistência, acabou participando do ritual de passagem dos álbuns de mão em mão. Olhava rapidamente as fotos, concordando com os comentários eventuais de uma tia ou uma das crianças da família. Mas nenhuma das imagens captava sua atenção por mais que alguns segundos.

Até que, folheando um dos álbuns maiores, uma das fotos soltou-se e caiu aos seus pés. A garota abaixou-se para pegar e viu que era uma foto da época em que seu pai ainda estava vivo.

Estavam todos ali na foto. Ela, sua mãe, os irmãos e o pai, usando sua camiseta preferida.

Era muito pequena, quando o pai faleceu, mas escutava várias histórias que sua mãe lhe contara. Ele parecia ser um homem muito amável (afinal, tivera vários filhos). Lembrava muito pouco dele. Na foto ele segurava seu irmão mais novo nos braços e sorria meio sem jeito, com o cachimbo no canto da boca. E era justamente aquele cachimbo que lhe criara a memória mais antiga da qual ela se recordava: o pai chegava do trabalho, pegava o jornal e sentava-se na sala para ler as notícias do dia e fumar seu cachimbo. Algumas vezes a mãe dela se compadecia e trazia-lhe um café ou outra bebida, mas ele não se importava com isso.

E ele não saia da poltrona até ter terminado tudo. Ela lembrou que algumas vezes se sentava no colo do pra tentar também entender o que estava escrito. O pai dela a olhava com um sorriso no rosto, beijava-lhe a testa suavemente e a colocava no chão.

Até que uma noite o pai não voltou para casa. Sua mãe chorou muito naquele dia e uma das tias veio explicar para as crianças que seu pai não estava mais no meio da gente. Naquela noite a menina dormiu na poltrona, envolta num cobertor xadrez, sentindo o cheiro do cachimbo do pai e naquela noite sonhou com viagens de carro e saudades.

Todas as lembranças voltaram a ela enquanto ela olhava a foto. Um sentimento de aperto tomou seu peito e no meio das risadas da sala, ela sentiu vontade de chorar. Escondida da mãe, guardou a foto no bolso.

Naquela noite, ela pegou a foto que havia escondido e ficou olhando-a por vários minutos, antes de dormir. Tantos sentimentos, tantas coisas que gostaria de ter falado para seu pai. Gostaria de ter conhecido-o melhor. O que será que ele gostava de comer? Como foi sua infância? O que sentiu quando os filhos nasceram?

Ela sentiu uma certa melancolia por não ter conhecido melhor o pai. Nunca saberia qual a cor preferida dele, ou o que ele sentiu quando os filhos nasceram.

Mas a melancolia veio acompanhada de um sentimento doce, porque ela sabia que seu pai sempre a acompanharia.

Naquela noite a garota dormiu logo. Embaixo de sua  cama, numa caixa de sapatos, uma fotografia antiga divide espaço com diários antigos, cartas de namorados e a um certo cachimbo.

Do que é falso

Postado em: setembro 05, 2010 por Marcio Carvalho em

Minhas certezas vivem no agora.

Do que tive certeza no passado, duvido, hoje.

Do que terei certeza no amanhã, não posso dizer.

Vivo de ideais puros e conceitos mutáveis.

Tudo o que desejo é real.

Pelo menos no momento em que desejo.

Porque meu desejo é fogo que consome até sobrar escuridão.

Eu aplaco a noite acendendo outro fogo.

Estigmata

Postado em: por Marcio Carvalho em

A pele sangra.

Os cortes abertos pulsam em vermelho. Deitado no escuro, ele sente a dor nos braços, revivendo todos os momentos da noite.

Ele pensa em desejos e segredos sórdidos. Lembra dos lábios dela nos locais onde o braço dói, revive em devaneios a sensação de ter as unhas dela cravadas na carne.

A noite passa devagar. Rolando na cama, ele tenta entender a excitação que percorre seu corpo como pequenos choques elétricos que irradiam a partir das feridas abertas.

As cicatrizes virão nos próximos dias.

Mas o que foi aberto naquela noite nunca mais será esquecido.

Estranho e doce

Postado em: setembro 02, 2010 por Marcio Carvalho em

Ela vai embora sem olhar para trás. Ele espera uma última olhada, um sorriso de despedida, um aceno. Em vão.

Ela desaparece ao subir a escada da estação. O vapor de água que sai do trem a esconde.

E dentro dela jaz uma explicação.

Sabia que se olhasse de volta quando se desperiram e não o visse ali, morreria um pouco por dentro...

Do fascínio

Postado em: por Marcio Carvalho em

O fascínio pelo fogo me acompanha há muitos anos. Lembro de quando eu era criança, quando chovia muito e as luzes apagavam.

Lembro de ficar em meu quarto, com a vela acesa, vendo a chama comandar um elenco de sombras que dançavam nas paredes. E eu ficava ali, fascinado pelo brilho, pelo calor, pelo poder do fogo de consumir.

Lembro da reverência em forma de temor que eu tinha da chama. Sabia que se ela consumisse toda a vela, a escuridão venceria e na minha imaginação, todo o conforto que a luz traria também se extinguiria. Quem saberia dizer que terrores estavam aguardando nas sombras pelo fim da luz.

Lembro que na minha arrogância infantil, eu brincava de controlar o fogo. assoprava de leve a vela, tentando descobrir o quanto mais de vento ela poderia aguentar sem se apagar. Brincava também de passar rapidamente com os dedos por sobre a chama, imaginando que eu a controlava e que ela não me queimaria, se assim eu quisesse.

Mas no fundo, ainda assim eu tinha medo de que a vela se apagasse com um assopro mais forte, ou que eu calculasse mal a passada e queimasse a mão.

O fogo sempre tem o controle.

E é isso que fascina.

Olhar

Postado em: agosto 31, 2010 por Marcio Carvalho em

Eu vivo 10 mil vidas em um olhar.

O corte

Postado em: por Marcio Carvalho em

O peito é aberto com palavras.

O coração é guardado por uma caixa de ossos. Falsa segurança.

O sangue jorra, a vida pulsa.

E no silêncio da dor, eu me entrego.

Do sentido

Postado em: por Marcio Carvalho em

Sou filho da terra e do céu.

Meu corpo exige sentir a fome e saciar, exige o calor, o fogo da intensidade.

Minha alma deseja a paz, quer soltar-se, quer abrigo no infinito.

Eu vivo entre os dois.

E tudo faz sentido.

Do que não pode ser dito

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Pensou em segurar a mão dela, enquanto ela olhava para o vazio. Queria naquele instante que todas as pessoas em volta deles desaparecessem e queria que o tempo parasse.

Queria tocar-lhe o rosto com calma, queria abraçá-la forte, sentir o corpo dela macio e quieto sob seus braços. Queria sentir o gosto dos lábios nos seus.

Queria, acima de tudo que ela escutasse as palavras que ele precisava dizer. Queria olhar nos olhos dela e entregar o segredo que queria fugir de seu peito a todo momento.

Mas as pessoas não desapareceram, o tempo não parou. Ele não tocou de leve o rosto dela, tampouco sentiu o abraço ou o gosto do beijo.

As palavras flutuaram no ar, suspensas em pensamentos e desejos reprimidos.

Ainda não...

Ainda não...

Mariposa

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Ele olhou a mariposa batendo incessantemente nas grandes clarabóias de vidro no teto, enquanto a poucos metros ao lado, grandes aberturas nas paredes levavam à liberdade do mundo externo.

O inseto insistiu por muito tempo, jogando-se com toda a força que tinha contra o vidro, seguindo sua programação interna que o guiava ao azul do céu.

Os choques ficaram menos frequentes. A mariposa parecia estar cansada e ferida. As asas batiam com cada vez menos força, até que não conseguiu mais atingir o teto. Seu vôo foi perdendo força e altura, até que, rendendo-se à morte inevitável, deixou-se cair.

Ele foi até o local onde o inseto alado jazia, as asas ainda batiam, mas não conseguia mais voar.

Olhando para as grandes aberturas nas laterais do prédio, o homem abaixou-se e delicadamente colocou a mariposa na palma da mão.

Levou-a com cuidado para não danificar ainda mais o pequeno corpo, esperou uma brisa um pouco mais branda passar e soltou a mariposa no ar. Imediatamente ela começou a cair.

Ele olhou-a, imaginando em um instante que o pior já havia acontecido e a mariposa iria cair inerte na rua mais abaixo. Porém, viu que as pequenas asas começaram a se agitar e ainda que lentamente, a mariposa afastou-se do prédio, rumo ao seu futuro.

Ele seguiu o vôo, pensando em como a cena inteira lembrava-lhe de si próprio.

treasure

Postado em: agosto 29, 2010 por Marcio Carvalho em

Abre os braços. sentindo o vento passando cada vez mais rápido, o barulho aumentando, até que tudo o que ele consegue ouvir é o barulho do vento.

Seu coração acelera, não de medo, mas de antecipação. O mundo vai ficando cada vez maior.

Mais velocidade, mais vento.

Ele sente o peso desprender-se do seu corpo. Todos os medos, todas as culpas, tudo o que o fazia sofrer é arrancado com o movimento. Apenas a sua essência permanece.

E no fim, ele está feliz.

Hoje

Postado em: agosto 28, 2010 por Marcio Carvalho em

Hoje eu sou todas as coisas.


Ao mesmo tempo.


Hoje eu sou.

Dos paradoxos perfeitos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Porque eu me perco em caminhos que eu deveria conhecer, para encontrar você.


E me sinto criança, explorando a imensidão de coisas que deixamos por aí. E descubro tantos tesouros que perdemos.


Momentos. SIlêncios. Olhares. E todos os mundos que construí com eles, dentro de mim.


Se fosse possível, guardaria todos em pequenas jarras, na estante da sala.


E viveria meus dias a admirá-los.


E quando chegasse a hora, deixaria-os ir.



Segredo

Postado em: agosto 24, 2010 por Marcio Carvalho em

Por que eu tenho que mentir, esconder, fingir que não existe esse algo que é maior do que eu, que é mais forte do que eu, que é mais real do que eu sou?

Por que esse sentimento de que se eu abrir a boca, o mundo ordenado se desfaz em um castelo de cartas?

Por que carregar essa dor, essa solidão idiota, esse semblante falso de que está tudo bem?

Por que mentir e fingir que está tudo bem, quando só o que existe é dúvida?

Explica pra mim. Olha nos meus olhos e diz que não.

Desatinos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu sou feito de silêncios.
Eu sou feito de sonhos.

Eu sou feito de amores.

Eu sou feito de saudades.

Eu sou feito de carne.

Eu sou feito de prazeres.

Eu sou feito de dúvidas.

Eu sou feito de segredos.

Eu sou feito de perdas.

Eu sou feito de mentiras.

Eu sou feito de sentidos.

Eu sou feito em pedaços.

Do som de asas

Postado em: por Marcio Carvalho em

Desisti de minhas asas.

Cortei-as fora, jogadas no chão, brancas penas sujas de sangue.

Nas costas, a cicatriz me lembra de minha herança divina.

Na minha mão, a lâmina ainda trêmula.

A dor é ainda presente, mas sei que acabará.

Pois meus pés tocam o chão, agora.

E meus pensamentos é que voam.

Canibalismo

Postado em: por Marcio Carvalho em

Me alimento de você.

Dos pensamentos que deixou em mim, dos textos que deixou por aí, das fotos, das lembranças.

Mas a fome de você não acaba.

Do que é real

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu minto para você. Porque meu corpo deseja. E nesse desejo, todas as mentiras são reais, mais reais que essa carne que queima em mim.

E sei que mentes. Para mim, para si mesma.

Ainda assim...

Nada é mais real do que o que temos.

pequenas mortes

Postado em: por Marcio Carvalho em

"Quando um homem mente, ele mata uma parte do mundo."

E tudo o que me contaste como sendo teu é apenas a ilusão que criastes para fazer com que o nosso pequeno mundo continuasse existindo.

Cada pilar que colocamos era feito de barro, cada reino que conquistávamos eram de fantasia.

Agora que tudo chega a um fim triste e banal, olho para você e me vejo imaginando o que poderia ter sido se apenas ousássemos.

A lua me trouxe você. E com você, veio a dor. E a vergonha de saber que mesmo essa dor é bem vinda, pois me aproxima de você.

Sinto que já vivi demais.

Maldito é esse coração que não bombeia sangue, mas desejos.

Porque sei que no momento em que conseguir o que desejo, vai ser pouco e vou querer mais.

Porque sei que o teu gosto é bom.

em pedaços

Postado em: agosto 18, 2010 por Marcio Carvalho em

pedaços de mim

pequenos encontros,
um abraço, um beijo.
um sorriso de despedida,
uma lágrima.

a paisagem que passa na janela do carro,
a lua, navegando o céu cheio de nuvens.

o cabelo ao vento,
o frio do inverno.

um céu cinza,
um olhar cinza.

pernas que se tocam por baixo da mesa,
um olhar demorado.

meu coração está em pedaços.

Do amor

Postado em: agosto 14, 2010 por Marcio Carvalho em

Quando o mundo ainda era jovem e somente uma tribo caminhava sobre a terra, os antigos deuses entregaram um presente aos homens. Uma jóia cor de sangue, um rubi de sonhos. E ao sonhar, os homens estariam nos braços dos deuses, unidos a toda a criação, ligados a todas as outras criaturas do mundo, protegidos, cuidados. E ninguém se sentiria sozinho. Essa jóia chamava-se Amor.


E foi dito aos homens que guardassem a pedra, pois enquanto elas existissem, o coração do homem nunca se afastaria da deidade. O chefe da tribo, Adh-an, tinha dois filhos, Kaihn e Avehl. Os irmãos gêmeos eram os mais rápidos e mais fortes de toda a tribo e a eles Adh-an entregou a tarefa de vigiar o Amor.

E os irmãos revezavam-se na tarefa. Kaihn ficava junto à jóia durante os dias e Avehl durante as noites. E no raiar do dia e no cair da noite os dois revezavam-se. E todos os homens ao dormir, sonhavam com o Amor dos deuses.

Kaihn admirava o brilho da pedra sob a luz do sol. O toque suave e quente dos raios refletidos em sua pele eram como os de uma amante e enchia-lhe o coração e acolhia sua alma. Mas o dia sempre terminava, e ele havia de voltar para sua casa sozinho. E era para ele mais difícil afastar-se da jóia. Mas ao nascer da lua, Avehl sempre estava lá.

E o tempo passou. Os dias pareciam durar cada vez menos para Kaihn. Avehl parecia vir cada vez mais cedo. E as noites pareciam não acabar nunca. Kaihn já não sonhava o mesmo sonho que os outros. Seu sono era governado por um pesadelo onde ele estava sozinho no mundo. Não haviam mais deuses e não havia mais tribo, tampouco ele conseguia sentir o calor do Amor em seu peito. Tudo era dor, desespero e solidão.

Kaihn pedia aos deuses para sonhar o sonho do Amor novamente, mas recebia só o silêncio da noite. Ele não havia feito nada de errado, por que estava sendo castigado? Foi numa noite sem lua no céu que ele, sem conseguir mais dormir, percebeu o que acontecera. Era Avehl! Ele passava todas as noites protegendo o rubi. Ele era o único que poderia tocá-la, que poderia usá-la. De alguma maneira ele descobriu como controlar o Amor e ao fazer isso, privara Kaihn do sonho.

Avehl. Tinha quer ser ele.

E no silêncio da noite, enquanto os outros dormiam, Avehl tramava.

No dia seguinte, o sol levantou-se como sempre fazia. E as mulheres da tribo saíram para os campos, como sempre faziam. E os homens saíram para caçar, como sempre faziam. E Adh-an mandou chamar seus filhos, pois era outono e em breve seria preciso prepararem-se para o inverno. Mas Kaihn não estava em seus aposentos. O rei mandou então os homens buscarem Avehl, na sala da jóia. Talvez Kaihn estivesse lá com o irmão.

Os homens voltaram com o horror nos olhos. Avehl estava morto. Jogado no salão da jóia. Seu sangue tingia o salão de carmim. A pedra não estava em seu lugar. E Kaihn não podia ser encontrado.

Adh-an não entendeu o que lhe contaram, em princípio. Nenhum homem de sua tribo havia morrido no salão da jóia, antes. Nenhum homem havia sido assassinado. E a pedra dos sonhos estava perdida, junto com Kaihn. E Avehl havia sido morto.

O rei mandou que toda a tribo procurasse pela pedra e por seu filho.

Os homens foram em todas as direções. Mais tarde, sem ter sucesso, com a chegada da noite todos foram dormir. E enquanto dormiam, os homens tiveram sonhos com a morte, o esquecimento, o medo e a perda.

Dias se passaram e a cada noite, os sonhos se tornavam mais e mais selvagens. Agora, os homens pareciam cansados, pois tinham medo de dormir e acordarem loucos.

Uma manhã, no início do inverno, Kaihn foi encontrado. Os homens do rei haviam tido dificuldade em reconhecê-lo, pois Kaihn parecia mais um animal, vestido com restos de peles de feras mortas. Ele parecia ter perdido a sanidade e agarrava-se ao Amor com tal ferocidade que nenhum homem parecia conseguir tiro-la dele.

Adh-an foi ao encontro do filho. Entendendo finalmente que o assassino de Avehl havia sido o próprio irmão. Mas ao ver a figura do pai a sua frente, Kaihn gritou como um animal enlouquecido, e pulou no pescoço de Adh-an, matando-o com as próprias mãos. Ele então atacou o homem que segurava a pedra, arrancando-a de suas mãos.

Fugindo novamente, Kaihn foi em direção a um penhasco. Os homens da tribo o cercaram, mas ninguém se aproximava, com medo de que ele jogasse o rubi nas pedras mais abaixo.

E Kaihn chorou e lembrou-se de seu pai e do irmão. E lembrou-se dos sonhos com os deuses e com todos os animais e todos os homens juntos. E desejando sonhar novamente com o Amor, ele fechou os olhos, deixando-se cair.

Seu corpo encontrou as pedras no fundo do penhasco e Kaihn morreu. A jóia dos deuses partira-se em milhares de pedaços.

Os homens recolheram os pedaços, mas como a própria pedra, seus corações pareciam ter sido destruídos naquele dia.

Os homens voltaram para a tribo, onde fizeram um conselho para decidir o que seria feito, então. Os anciãos disseram que os deuses haviam sido desafiados com os atos de Kaihn e que a terra onde moravam havia sido amaldiçoada. Os mais fortes da tribo dividiram os pedaços do Amor entre si, nomeando-se lideres de seus clãs e esperançosos de continuarem ainda sonhando com a unidade com os deuses.

Muito tempo se passou, desde aquela época. A tribo disperso-se pelo mundo, fugindo do paraíso agora amaldiçoado. Os clãs se dividiram em tribos diferentes, que em pouco tempo eram tão numerosas quanto os cacos do rubi.

E desde então, os homens não sonham mais com os deuses. Cada um sonha com um pedaço da pedra, um pedaço da totalidade, incompleto e imperfeito. E desde então os homens sonham em encontrar o Amor completo novamente.





das coisas que fascinam

Postado em: por Marcio Carvalho em

O vento sopra forte. É dificil manter os olhos abertos. O dia está cinza e silencioso. Só o barulho do vento parece governar o mundo.


Eu caminho no parapeito. Braços abertos, as pessoas longe.

Gosto de estar aqui. Me faz pensar na vida. Nos limites, nas fragilidades.

E em como é fácil se deixar cair.

Eu olho o mundo inteiro daqui de cima. 

E por alguns instantes, tudo é menor que aquilo que posso sentir.

do que não se cala

Postado em: agosto 07, 2010 por Marcio Carvalho em

eles se olham... intensos... em silêncio. uma luz vermelha atravessa a cortina, deixando o quarto com uma atmosfera quase onírica.


ela o abraça, aperta-o forte contra si. ele a recebe em seus braços, num abraço carinhoso, mas cheio de muitos significados.

eles se beijam, calmamente. um beijo de reencontro, um beijo de primeira vez. 

ela gosta do beijo dele. é doce e intenso. tudo nele parece intenso, doce, proibido, desejado, antigo, sagrado.

ele sente com as mãos as curvas suaves do corpo dela. o beijo lhe traz lembranças que vão além da vida dele e desafia tempo e definições.

para os dois, tudo no mundo além desse quarto é baixo e sem sentido.

as roupas deixam os corpos, a vergonha deixa a alma, a culpa deixa o mundo.

eles são pele, sangue, alma e desejo.

ela se entrega. o corpo dele preenche seu corpo, os olhos dele preenchem sua alma.

ele a sente. os sussuros e gemidos dela são parte da música da criação.

eles se tocam, se conhecem, se descobrem, se reencontram. 

os corações falam, juntos, uma batida.

e lá fora, a noite se recolhe em silêncio.



do que a noite me traz.

Postado em: por Marcio Carvalho em

a noite me traz a sua ausência.

é no escuro que sinto a falta que o seu olhar me faz.

é no silêncio do sono alheio que escuto sua voz.

é o brilho da lua que me faz lembrar do seu sorriso.

é o vento noturno que me faz pensar em seu toque.

a noite me traz vc, em cada detalhe, em cada sinal.

Do cavalheirismo

Postado em: agosto 05, 2010 por Marcio Carvalho em

Por que eu sou o único cavalheiro que sobrou no mundo, hein?

E por que eu me sinto um idiota por ser assim???

Coisas que nos fazem pensar...

All you need is me

Postado em: julho 26, 2010 por Marcio Carvalho em

You hiss and groan and you constantly moan
But you don't ever go away
And that's because
All you need is me

You roll your eyes up to the skies
Mock horrified
But you're still here
All you need is me

There's so much destruction
All over the world
And all you can do is
Complain about me

You bang your head against the wall
And say you're sick of it all
Yet you remain
'Cause all you need is me

And then you offer your one and only joke
And you ask me what will I be
When I grow up to be a man
Me? Nothing!

There's a soft voice singing in your head
Who could this be?
I do believe it's me

There's a naked man standing, laughing in your dreams
You know who it is
But you don't like what it means

There's so much destruction
All over the world
And all you can do is
Complain about me

I was a small, fat child in a welfare house
There was only one thing I ever dreamed about
And fate has just
Handed it to me - whoopee

You don't like me, but you love me
Either way you're wrong
You're gonna miss me when I'm gone
 
You're gonna miss me when I'm gone.

Morrissey - All you need is me

Inconstância

Postado em: julho 25, 2010 por Marcio Carvalho em

Há uma parte de mim para cada estrela do céu.

Das coisas que não sei dizer

Postado em: por Marcio Carvalho em

Não sei dizer o quanto sinto a falta.

Não sei dizer o que senti quando você foi embora

E fico aqui, vagando em pensamentos e desejos que já não pertencem a mim.

E são muito maiores e muito mais fortes que eu.

E esse pedaço de mim já não vive mais comigo.

E caminha e vê o mundo com olhos que não são mais meus.

E ainda assim, é a coisa mais preciosa que tenho.

Das saudades

Postado em: por Marcio Carvalho em

Dizem que viemos ao mundo para trilhar um caminho, para viver certas coisas.

Mas de todos os caminhos que trilhei, o que ficou foi a saudade.

E de todas as saudades que sinto, a maior de todas é do pedaço de mim que vive em você.






sob o luar

Postado em: julho 20, 2010 por Marcio Carvalho em

há um jardim.

sob a luz da lua, entre o sonho e a morte.

ali encontra-se minha alma.

Postado em: por Marcio Carvalho em

bolas de sabão, sorriso, magia, sonho.

Das coisas que não se consegue controlar

Postado em: julho 19, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , , , , , ,

Minha alma se perde em sonhos cada vez que vejo a lua.

Meu coração se perde em pedaços a cada despedida.

Minha cabeça se perde em pensamentos a cada frase que se perde na noite.

Meu corpo se perde em desejos a cada sugestão que sai dos lábios dela.

Meus caminhos se perdem em curvas, em olhares, em sussurros.

Meu destino se perde no tinto vinho.

Minha voz se perde em pedidos, em gemidos.

Minha vida, minha vida se perde em todas as coisas que não consigo controlar

Do que nunca conseguimos deixar

Postado em: julho 18, 2010 por Marcio Carvalho em

Segredos sórdidos se escondem por trás dos mais inocentes sorrisos.

Mas ainda assim, sob o protesto da parte de mim que ainda mantém sua sanidade e o mínimo de bom senso, eu me deixo fascinar.

Nice guy

Postado em: julho 14, 2010 por Marcio Carvalho em

Eu juro que tenho sido um cara muito, muito, muito legal, ultimamente.

Mas nem é tão divertido, assim...

Postado em: por Marcio Carvalho em

Não importa a quantidade de camas que tenha frequentado, a quantidade de pessoas que tenha colecionado.


No final do dia, eu acho muito mais importante ter por perto alguém que me fascine por causa dos detalhes, do sorriso, do olhar perdido, dos barulhinhos que faz, do carinho bobo.

Eu gosto de estar fascinado. É bom.

Da espera

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , ,

Sua cama ficava voltada para a janela do quarto que dividia com o irmão. Ele gostava de ficar deitado ali, olhando o céu. Sempre gostara do céu.

Mas o maior espetáculo que essa visão proporcionava acontecia nos finais de tarde dos verões quentes  do Rio de Janeiro. Algumas vezes, o brilho do sol do final da tarde ficava subitamente mais forte. Tudo no mundo ficava brilhante. E a brisa fraca parava de circular.

O ar ficava opressivo, sobrecarregando os sentidos. E sabendo o que aconteceria em seguida, ele corria para a janela do quarto. No horizonte, imensas nuvens apareciam por trás dos morros. Gigantes que aos poucos iam tomando toda a visão do céu. Nuvens escuras, azul-acinzentadas moviam-se serpenteando suas formas mutantes.

O ar parado ficava carregado de uma eletricidade hipnotizante. O brilho ia cedendo espaço para a sombra que parecia tomar conta do mundo. As nuvens dançavam, mesclando-se umas às outras, revolucionando, brigando entre si.

O menino segurava a respiração, maravilhado com cada detalhe. Medo e admiração misturados.

De repente, um risco cortava o céu ao longe e o silêncio do mundo acaba.

E ele sempre pensava em Deus, quando olhava a tempestade.





O que vive em mim não sei expressar

Postado em: julho 11, 2010 por Marcio Carvalho em

Louco, apaixonado, criança, perdido.

Sou som, sou a noite, a lua e as estrelas.

Sou vida, sou coisas perdidas.

Sou nada, sou cada segredo.

Sou mistério, sou problema,

Sou o que é perdido.

Sou o que nunca vi.

Sou.

Jardim de delícias

Postado em: por Marcio Carvalho em

O dedo desliza na pele devagar.
O corpo responde, um arrepio, uma respiração entrecortada.
Uma espiral imaginária é desenhada na pele.
Aos poucos ele explora o corpo dela. Sem pressa, sem objetivos além de conhecê-la.
Ela fecha os olhos, viajando em seus sentidos, entregando-se aos poucos.
Eles nada falam. São todos olhares e sabores, odores e sons.

Não são amantes, não são homem e mulher.

São o amor e o desejo, são carne e alma, são vida e morte.

E o quarto é seu jardim.

In vino veritas

Postado em: por Marcio Carvalho em

No cálice minha vida se reflete em tons tintos.

A beleza reside nos detalhes

Postado em: por Marcio Carvalho em

As palavras não ditas guardam mais significados que todos os poemas já escritos.

Um olhar desviado, um sorriso tímido, uma gentileza gratuita.

Se as pessoas fossem apenas capazes de ver...


dilema

Postado em: julho 06, 2010 por Marcio Carvalho em

eu acho que estou no maior dilema da minha vida, nesse exato minuto.


ah, maldita timidez...

:)

de sombras

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , , ,

por detrás da imensa janela, ele observa as sombras dos arranha-céus tomando a cidade. o sol é um círculo vermelho de brilho tímido. a noite se aproxima.

ele aprendeu a amar essa hora. o momento em que o sol morre no horizonte, o momento em que a lua triunfa na luta diária pelo controle dos homens.

os olhos se estreitam, observando os últimos raios de luz banharem o mundo.

a fome se anuncia, a sensação que começa na base do abdômen e sobe, crescendo, rugindo dentro do peito. quando a lua começa sua jornada nós céus, ele também descide caminhar.

as ruas estão cheias e sujas, como sempre. milhares de odores misturados. uma sensação pungente e ao mesmo tempo viciante.

ainda assim, ele se delicia com esse momento. as pessoas passam a sua volta, alguns esbarram em seu ombro, apressados em suas vidas pequenas, sem ter idéia do que ele é.

ele caminha por horas, saboreando a noite e as sombras.

ela passa por ele. um segundo ou menos, mas o aroma dela aguça seus sentidos.

o mundo além dela perde o foco e a caçada começa.

ele a segue. a cabeça baixa, mas os olhos fixos no balançar do cabelo escuro e longo. o cheiro dela toma aos poucos toda sua atenção. um som cadenciado e abafado começa a se sobressair entre a cacofonia das ruas. um som como o de um coração.

ela nada percebe. ao virar uma esquina escura, ela vê um homem parado, encostado na parede. ela sente um arrepio na nuca, uma sensação de alerta, mas não sabe porque. ela continua olhando para o homem, quando ela percebe que ele a está olhando de volta.

o coração dela dispara. ele consegue ouvir a batida acima de qualquer outro som do mundo, o sangue sendo bombeado por artérias, percorrendo caminhos por sob a pele dela. a antecipação toma todo o pensamento dele. a fome clama seu preço.

ela pensa nos olhos dele. frios, fixos, sem brilho, como os de um morto. ainda assim... ainda assim ela não consegue parar de olhar. o homem está sorrindo para ela? ela não sabe dizer. uma palavra se forma em seu lábio, mas ela não consegue produzir nenhum som. os olhos dele...

ele olha para os lábios vermelhos. a batida do coração dela agora é ensurdecedora. uma percussão ancestral que seduz, que chama.

ela para em frente a ele, sem saber porque.

ele a pega pelo braço. a vibração do pulso dela é sentida por todo o corpo dele. ele sorri.

ela sente medo, mas não consegue fazer nada. ela se sente frente a algo muito mais velho e maior que ela. ela sente medo, mas quer se entregar. ela não pode fazer nada.

ela o deseja. ela é dele. sempre foi, sempre. nada mais importa do que se entregar àquele homem.

ele abre a boca. dentes afiados tocam o pescoço macio. a pressão abrindo pele e músculo. o jorro quente e cheio do gosto dela enche-lhe a boca. ele a abraça, puxando-a toda para perto dele.

ela sente os dentes dele no seu pescoço. ela sente o abraço dele e se sente mais próxima do que jamais se sentiu com nenhum homem em toda a sua vida. ele precisa dela e ela se entrega totalmente. ela sente um líquido quente escorrer sobre sua pele, descendo pelo peito. ela sente os lábios dele, sua língua raspando no pescoço e o abraça, como uma mãe alimentando um filho faminto. ela sente a dor, mas não pode deixá-lo. nunca.

ele a quer mais que qualquer ser do mundo. a vida dela preenche o seu corpo, enchendo-o com suas lembranças. ela é tudo para ele, naquele momento.

algumas pessoas que caminham na rua, ao lado do beco percebem os dois amantes se entregando um ao outro, nas sombras.

pequenos mundos

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , ,

ela caminha no canteiro, alheia ao movimento à sua volta.

a noite é iluminada pelos milhares de faróis dos carros que passam.

ela assopra o pequeno aro que segura na mão e as bolhas de sabão flutuam, levadas pelo vento.

um pouco da menina vai em cada bolha, voando, voando, buscando o céu.

masquerade

Postado em: julho 04, 2010 por Marcio Carvalho em

"prefiro alguém que me olhe com raiva, lágrimas nos olhos e mágoa do que alguém que só sorria.

prefiro a verdade de sentimentos conflitantes, de camas vazias, de despedidas finais do que um olhar falso de aprovação."


máscaras...

ela as toca, uma a uma, com uma delicadeza quase maternal. penduradas na grande sala, milhares de cópias de um mesmo rosto, diferentes apenas na emoção que cada uma demonstra em suas linhas.

uma em especial é guardada no centro da sala. a mulher a olha por longos momentos, lembrando-se de um final de tarde, quando ela ainda era criança. sentada no canto do quarto, os braços abraçando os próprios joelhor, ela olhava para o chão, enquanto uma tempestade arrasava cada sonho, cada esperança. a dor física começava a passar, mas por dentro ela ainda gritava.

no meio da escuridão, uma pequena fagulha pareceu brilhar, capturando os olhos vermelhos da menina. a máscara de um rosto quase idêntico ao seu estava ali, jogada aos seus pés. mas aquele rosto no chão parecia completamente feliz.

a menina olhou aquilo com uma curiosidade enorme. a pequena mão lentamente tocou o rosto sem marcas, sem dores, sem mágoas. vacilante, ela pegou a máscara nas mãos e a levou ao rosto.

e então, sob as aberturas para os olhos da máscaras, o mundo pareceu mudar. as pessoas não podiam mais enxergar a vergonha que ela carregava de si. toda a dor, todos os xingamentos, toda a vergonha sumiu. por trás das aberturas, ela era feliz. era assim que o mundo a via.

e por toda a vida, ela criou  máscaras, cópias de seu rosto, mais adequadas para os momentos em que era doloroso ou revelador demais mostrar a realidade.

segredos

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , , ,

ela tem um sorriso doce.

e um olhar que rasga o peito, atravessa o coração e atinge a alma.

perigoso abrigo para os desejos...

Dos segredos belos e sórdidos

Postado em: junho 29, 2010 por Marcio Carvalho em

Os dois são cúmplices em um crime não cometido. Culpados por desejarem mais do que o mundo lhes deu.

Em silêncio, tramam coisas. Sonham. Desejam.

Não ousam dizer segredos em voz alta. Eles os trocam em olhares, em toques de pele, em sorrisos, em silêncio.

E a cada madrugada, seus corpos se entregam ao sono e as almas se entregam uma a outra em sonhos.

It's all full of love

Postado em: junho 27, 2010 por Marcio Carvalho em

I was a good kid
I wouldn't do you no harm
I was a nice kid
With a nice paper round
Forgive me any pain
I may have brung to you
With God's help I know
I'll always be near to you
But Jesus hurt me
When he deserted me, but

I have forgiven Jesus
For all the desire
He placed in me when there's nothing I can do
With this desire

I was a good kid
Through hail and snow I'd go
Just to moon you
I carried my heart in my hand
Do you understand?
Do you understand?
But Jesus hurt me
When he deserted me, but

I have forgiven Jesus
For all of the love
He placed in me
When there's no-one I can turn to with this love

Monday - humiliation
Tuesday - suffocation
Wednesday - condescension
Thursday - is pathetic
By Friday, life has killed me
By Friday, life has killed me

(Oh pretty one, Oh pretty one)

Why did you give me
So much desire?
When there is nowhere I can go
To offload this desire
And why did you give me
So much love
In a loveless world
When there's no one I can turn to
To unlock all this love
And why did you stick me in
Self-deprecating bones and skin
Jesus - do you hate me?
Why did you stick me in
Self-deprecating bones and skin
Do you hate me? do you hate me?
Do you hate me? do you hate me?
Do you hate me?



I have forgiven Jesus - Morrissey

Da estranheza da vida

Postado em: por Marcio Carvalho em

É tão estranho, ter certeza de algumas coisas, mas ter que mantê-las em silêncio, presas, escondidas.

Sei que guardo em mim segredos e mais segredos. Mas o tempo passa e sinto cada vez menos necessidade de esconder sentimentos.

Pena que nem sempre a pessoa para quem precisamos dizer coisas parece estar preparada.

De quando se é criança

Postado em: junho 24, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , , , , ,

Lembro sempre da varanda da casa dos meus avós. O alpendre, como eles a chamavam era alto, uns 3 ou 4 metros do chão. Eu sempre imaginava que ali fosse o alto do meu castelo e que o grande terreno que havia em frente à casa era meu reino.
A cada manhã eu subia no meu castelo para observar o que acontecia e a cada manhã, meu reino era invadido por inimigos, ou por bruxos malignos, ou um dragão com vômito de chamas.

Ou então eu era o capitão de um cruzador espacial e a varanda era a ponte de comando. Viajávamos para mundos distantes e eu imaginava, quando descia a escada para o terreno, que havia pousado em um planeta desconhecido, mas cheio de mistérios, civilizações desconhecidas ou monstros alienígenas.

E algumas vezes, quando era época de colheita de café e os empregados espalhavam os grãos no terreno para secar, eu era meu próprio avô, comandando todos os negócios da fazenda de cima do alpendre.

E meus pais nunca entenderam porque eu gostava tanto de passar ali quase todas as manhãs das minhas férias...

Eu sei o que você fez no verão passado

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores:

Poucos segredos duram para sempre.

Da lua

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: ,

A lua tem o poder inesgotável de fazer me apaixonar por ela noite após noite após noite.

Mas dizei uma palavra e serei salvo

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , ,

Estou encantado. Meu olhar vai da boca para os olhos dela e de volta. Milhares de pensamentos passam por minha cabeça.


E ainda assim, nada me intriga mais que as palavras que você não fala. 

De reflexos

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , , , , , ,

Ela me convida para o quarto do hotel onde está hospedada, para conversarmos. O quarto é bonito, a cama onde ela se senta é grande e está arrumada da maneira perfeita que só camareiras conseguem.

Eu fico na poltrona, de frente a ela. Falamos sobre coisas frívolas, sobre a vida, sobre pessoas, sobre nós. Conto coisas que normalmente falaria, mas tudo hoje parece permitido. Acho que são os olhos que me fitam da cama, curiosos, pedindo mais.

A noite passa muito mais rápido do que eu gostaria. Lá fora a cidade que nunca dorme parece quieta. Os brilhos de milhares de luzes passando pela janela. Meus pensamentos estão meio adormecidos. Penso que foi a garrafa de vinho quase vazia sobre a mesa.

Ela pede licença para trocar de roupa. Ainda estamos com a roupa com que fomos jantar. Pergunto se ela quer que eu vá, mas ela declina. Ela pega alguma roupa na cama e vai para o banheiro.

Levanto-me para pegar uma taça e me servir do que sobrou do vinho. Sento-me de novo na poltrona e algo me chama a atenção. A luz que se estica no chão me faz segui-la até a porta do banheiro, que está entreaberta.

Lá dentro, no reflexo do espelho, ela está se trocando. Penso em avisá-la, mas percebo que não vou conseguir.

Olho, fascinado, enquanto ela tira o vestido de forma calma. Ele cai no chão. Sigo o caminho inverso, percorrendo com os olhos o corpo. Pernas, coxas, curvas. Meus olhos percorrendo cada centímetro, acumulando o máximo de detalhes possíveis.

Me sinto uma criança espiando a calcinha da amiga da escola, um adolescente observando a vizinha através das frestas da persiana.

Ela é perfeita. Perfeita e está olhando para mim.

Meu coração dispara. O cérebro diz que devo olhar para outro lado, fechar os olhos, pedir desculpas, qualquer coisa. Só o que consigo fazer é encarar os olhos negros de volta.

Lá fora, a madrugada caminha lenta. No quarto, a porta do banheiro se abre, mais e mais.

Do medo

Postado em: por Marcio Carvalho em marcadores: , , ,

Disse ontem que tinha medo de me sentir perdido.


Acho que tenho mais medo de não sentir nada. 

É... ainda sou do tipo que olha o abismo e se sente fascinado.

Do que as pessoas (não) nos dizem

Postado em: por Marcio Carvalho em

As pessoas sempre vão te decepcionar. Sempre. Essa é a verdade mais crua e simples de qualquer tipo de relacionamento. Eu entendo que todos têm segredos para contar, mas me é tão estranho que algumas coisas sejam escondidas, como se a verdade fosse ferir mais do que o que se esconde.

Não sei, talvez seja eu um inocente, que imagine coisas, que veja verdades e sentido onde só há vazio e dissimulação.

Mas me sentiria muito mais interessado em saber da verdade, por mais sórdida e suja do que ficar por trás de um véu, que nem é tão espesso assim.

Seja como for, um pedacinho do que era morreu, hoje.

Love me to death

Postado em: junho 22, 2010 por Marcio Carvalho em

Let me come inside your ivory tower
let me come inside your hallowed walls
God, it's heaven in here
fix me with your hand of grace
fix me with your touch of precious thrill
your fingers dance across my skin
reaching out for the pride of man

We're hand in hand, we're flesh in flesh
we're walking through the fire of love
and breath by breath, and flame by flame
we burn 'til the sun rises and shines hard
and love come gushing, love runs free
my love comes all over you
my love comes for you

Love me to death, my flower
run barefoot through my hair
naked on my lips
love me to death, my precious
smother me with kisses
drown me in your waves of flowing sweetness

Hold me dear, and bury me deep
bless me with your word of savage honour
we love more by fate than design
so give me your hand and I'll gladly give you my life
my flower, that sways in the breeze
you must be stronger than the winds that blow you away
blow you away

Love me to death, my precious
run barefoot through my hair
dance wild on my lips
love me to death, my flower
lay me down on your bed of petals
cover me with your honey, my blossom

Love me to death
love me to death
love me to death, my flower
love me to death, my treasure
run bare foot through my hair
dance wild on my heart
love me to death, my precious
love me to death, my love
tarnish, taint and punish me softly
softly love me to death
love me to death.


Love me to death - Mission UK

De todos os erros

Postado em: por Marcio Carvalho em

De todas as falhas, de todos os enganos, de todos os caminhos errados...

É admirável que eu tenha vindo parar logo aqui.

Saber demais

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu acho que sei demais.
Penso que sei como as coisas começam, como terminam e logo, o que acontece entre um e outro é meramente um alongamento de algo que está para terminar.
Mas é claro que erro muitas e muitas vezes.

Algumas vezes eu desejo internamente que esteja errado.

E me sinto realmente grato quando estou.

Do limite

Postado em: por Marcio Carvalho em

Algumas vezes jogar-se no abismo é salvar-se.

Das coisas que encantam

Postado em: por Marcio Carvalho em

A lua
O vinho
A música
O sussurro
A pausa
O sorriso
O olhar
A noite
O segredo
O sonho
A chama
A viagem
O vento
O inverno
As coisas
Todas as coisas
Você

De como quero te perder

Postado em: por Marcio Carvalho em

Sei que vou te perder.
Sei que vai embora em breve.

É estranho, e dolorido, guardar palavras dentro de mim,
Mas sinto que dizê-las é proibido.

Não gosto de viver no silêncio de beijos não dados
E prefiro sofrer por perder do que por me arrepender

Os amores fadados ao fracasso são os mais doces
Segredos sórdidos, trocados entre sombras são os mais sinceros

Sei que vou te perder.
E sei que vai embora em breve.

Ainda assim...
Ainda assim leva contigo essa parte de mim.

Brilho

Postado em: junho 16, 2010 por Marcio Carvalho em

Os dentes dela brilham, refletindo as luzes do letreiro de neon.

Ela me beija o pescoço.

O mundo se desmancha em vermelho.

Da Lua

Postado em: por Marcio Carvalho em

O garoto olha a Lua, o brilho no céu formando um sorriso dourado.

E o garoto sorri, sozinho, sabendo que a Lua sorria para ele.

De corpos

Postado em: por Marcio Carvalho em

Sou só corpo quando estou com você. Minha alma se converte em músculo, pele e sensação, meus pensamentos se diluem em sangue, palpitações e desejo.

E tudo em mim é querer, é sentir, é tocar.

E ao te beijar, ao toque da sua pele na minha, eu me torno um pouco você.

Mas não nos tornamos um.

Somos tudo, somos todas as coisas, somos o mundo, o universo, a existência. Não há mais nada, porque nada mais importa.

Calor

Postado em: por Marcio Carvalho em

Às vezes sinto um calor percorrendo meu rosto, quando falo com você. Imagino como ele deve ficar vermelho, e isso só aumenta a sensação.

Às vezes fico imaginando que há um jogo entre nós, uma provocação, quase uma dança.

Às vezes espero sua resposta. Finjo que não me importo, me ocupo de outras coisas, faço meu trabalho, ouço minhas músicas. Mas quando me percebo, os olhos já estão lá, a procurar por você.

Às vezes quero dizer coisas que acho que não quer ouvir. Ou não pode, não sei, me sinto confuso.

Às vezes quero ir embora, voltar para meu mundinho estranho de sonhos e silêncio, mas a música que você trouxe pra minha vida não me deixa.

Às vezes me sinto criança, imaturo, inconsequente, insolente. Por querer tudo, por querer o tempo todo.

Às vezes sinto que te olho demais, que tento ver cada detalhe que você deixa escapar, como pra construir uma imagem sua dentro dos meus pensamentos.

Às vezes acho que devo falar tudo o que se passa aqui dentro, mesmo com o receio que tenho de deixar as palavras mais importantes serem atropeladas por sentimento bruto.

Às vezes... às vezes sinto um calor percorrendo meu rosto, quando falo com você. E todas às vezes é bom.

Pedaços

Postado em: por Marcio Carvalho em

Deixei um pedaço da minha alma na ponte, essa manhã. O brilho preguiçoso do sol invernal iluminava as águas, pintando-as de milhões de partículas brilhantes que se moviam com as ondas calmas da baía, enquanto o vento frio que entrava pela janela me fez acordar para as belezas escondidas nas coisas que vemos todos os dias.
As aves sobrevoavam os barcos de pesca às centenas, em busca de refeição fácil. Um ritual diário, mas que sempre me faz ficar curioso.

Lá embaixo, um pequeno barco com dois homens passa devagar, enquanto imagino como a mudança de perspectiva muda tudo. Estar lá embaixo, entre pilares enormes de cimento que sustentam todos os veículos que passam pela ponte todos os dias deve trazer uma forma totalmente diferente ao pensamento sobre o que o homem é capaz.

Ao longe um nevoeiro se espalha pela serra. As montanhas azuladas parecem emergir de um mar branco e silencioso.

Cada lado para onde olho é uma visão, uma sensação, uma divagação.

Deixo um pouco de minha alma ali, no movimento do mar, na dança dos pássaros, nos homens no barco, na névoa da montanha...

Milagres

Postado em: junho 06, 2010 por Marcio Carvalho em

"... and out of that contradiction, against unfathomable odds, it's you - only you - that emerged. To distill so specific a form, from all that chaos. It's like turning air into gold. A miracle. And so... I was wrong. Now dry your eyes, and let's go home."

Jon Osterman, para Laurie Juspeczyk - Watchmen

Das regras

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu consigo imaginar muitas coisas acontecendo, agora.

Pena mesmo que minha imaginação seja tão mais divertida que essa realidade chata.

Diálogo

Postado em: por Marcio Carvalho em

Ele olha para ela e fala, tentando descobrir o que passa por trás dos olhos.

- Ah, espero que você não esteja me achando muito estranho, com todas as histórias que contei.

- Não. Acho que penso que poucas coisas são estranhas.

- Mas vc não conta muita coisa sobre vc, né?

Ela responde, pensativa.

- Não acontece muita coisa na minha vida. Na verdade, minha vida é tão parada que eu às vezes acho que vou pirar. Ah! viu? contei alguma coisa sobre mim!

- Hummm... pira, então!

Ela sorri pra ele.

- Acho que esse não é um bom conselho.

- Não? Eu acho que é o melhor conselho.

Beleza

Postado em: por Marcio Carvalho em

O corpo quer felicidade, prazer e saciedade. Mas a alma procura a aventura de andar no limiar do abismo.

Do seu olhar

Postado em: maio 28, 2010 por Marcio Carvalho em

Você tem um olhar meio perdido, de menina que quer coisas demais e o tempo todo.

Mas é um olhar bonito. E intrigante...

Do dia de amanhã

Postado em: por Marcio Carvalho em

Amanhã vai fazer um mês que ela se foi.

Sinto sua falta, mas sinto que você não deveria mais estar por aqui, mesmo.

Não me despedi de você. Mas a última noite que passei ao seu lado, na cama do hospital, me ensinou tanto sobre mim mesmo.

Eu cresci, ali. Naquele quarto escuro, com os barulhos dos equipamentos, observando sua respiração fraca e seu olhar já distante desse mundo. Me senti tão mais velho que você...

Obrigado, tá? Por ter feito de mim um garoto menos estranho do que eu queria ser. Você ajudou esse mundo a ser mais suportável em muitos, muitos momentos.

Do que você não sabe

Postado em: por Marcio Carvalho em

Eu gosto de você como é.

Da tristeza bela

Postado em: por Marcio Carvalho em

Há algo de belo no que é triste. Há uma beleza sincera, quando nos encontramos sem rumo. Uma beleza pura, crua, quase selvagem, livre de amarras.

Meu coração parece mais sincero quando estou triste. É o momento em que sinto minha alma mais perto desse mundo.

Não, eu não gosto de estar triste. Não gosto de sentir o coração apertado ou de sentir o chão faltando. Mas a beleza me atrai. Como somos atraídos pelo perigo de cair do penhasco, como atrai o brilho de uma lâmina.

Minha mente fervilha de idéias quando me sinto triste e só. Os dedos formigam, procurando onde escrever.

Me sinto triste. E me sinto só.

Mas o mundo parece mais bonito, essa noite.

De fumaças, espelhos e sonhos

Postado em: abril 09, 2010 por Marcio Carvalho em

A fumaça dança, espessa, fantasmagórica... e aos poucos parece ir tomando o mundo à nossa volta. as pessoas, as mesas; o mundo parece encoberto dessa névoa. Tudo fica pálido, sem cor e distante frente àqueles olhos.

Me sinto preso, nasci assim, morrerei assim. Preso à uma promessa velada, mais antiga que eu, maior do que eu. Me sinto preso e nu, criança maravilhada com a descoberta de algum segredo dos adultos.

Me sinto distante de mim. Não sou eu mesmo, agora. Sou seu. Sou o que quiser de mim.

Olhe para mim. Quero que olhe para mim e mais nada. Quero que o resto do mundo acabe agora e que o fim de tudo seja um início para nós.

Da vida

Postado em: por Marcio Carvalho em

Na televisão, uma mãe que parece mais nova que eu chora a perda de um filho. Eu não sei o que é isso. Não sei o que é isso. Não sei o que é segurar uma criança nos braços, colocá-la para dormir, sorrir e sentir em meu peito que sou a pessoa mais importante da vida dela. Não sei o que é perder alguém que seja mais importante do que a vida de todas as outras pessoas do mundo. Não sei o que é ter o amor incondicional, intransferível, indelével de alguém.
Aquela mãe chora a perda de uma vida que não conheci.

No escuro da sala, invejo a tristeza dela.

Dos silêncios que gritam em mim

Postado em: por Marcio Carvalho em

O mundo parece estar acabando, lá fora. Pessoas mortas, crimes, a natureza se revoltando. O medo está transformando minha cidade adotada em um local vazio à noite. E ainda assim você e eu fingimos que está tudo bem. A urgência grita e nós nos escondemos atrás de muros de silêncios e de palavras vazias.

Há um vazio no meu mundo. Um vazio com a forma do seu olhar.

Madrugada

Postado em: março 19, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , , , ,

afasto-me de tudo o que me compromete com o mundo. insisto em uma sobrevivência como sombra e nem ao menos sei porquê. acho que espero algo que me mostre que caminho seguir. sei que não deveria. sei que deveria criar meu próprio caminho, mas sou atormentado por imagens de uma vida que não sei se vivi.

o tempo cobra seu preço, derramando, gota a gota do vinho que não bebemos juntos. não há sentido nas coisas.

quero dizer que tenho a solução de tudo. quero dizer que o momento de esperar terminou. mas não posso mais prometer coisas.

há um sentido nas coisas. há de ter algum.

e muito além do escuro da noite, os deuses brincam com marionetes.

das coisas deixadas

Postado em: março 18, 2010 por Marcio Carvalho em marcadores: , ,

A vida é feita de coisas que deixamos para trás. A cada dia deixamos um pedaço de nós e nos transformamos em uma pessoa diferente.

Algumas vezes sentimos falta da pessoa que éramos em determinado momento da nossa vida. Outras vezes nos aliviamos por não fazer os mesmos atos. "A vida segue", dizemos; e devemos seguir com ela.

Este é um novo blog. Depois de muito tempo resolvi voltar a escrever... É uma experiência assustadora. Principalmente porque sei que não escrevo mais tanto quanto gostaria; não sou mais aquela pessoa.

E é esse meu objetivo. Deixar aqui um relato das coisas que deixamos para trás.